“A língua portugueisia, é mutcho
compricádia”, já diz o personagem humorístico, “Seu Creisson”. Assisti no
programa do Luciano Huck à final do quadro “Soletrando”, com três alunos de
colégios militares, sendo dois rapazes nordestinos e uma menina gaúcha. Achei
que houve injustiça. Não intencional, mas por interferência de regionalismos.
Um dos alunos eliminados, por exemplo, perdeu ao soletrar uma palavra bem
simples. Vejamos:
O apresentador pediu que ele soletrasse
a palavra “êxtase”. Eu estranhei quando o rapaz solicitou várias vezes que a
palavra fosse repetida, porque ele havia tirado de letra (desculpem o
trocadilho) palavras bem mais difíceis. Luciano repetiu e ele soletrou
“estase”, assim, com S. Agora eu vou polemizar.
Quando a cantora Simone ensaiava para
gravar a música “O que será?”, Chico Buarque lhe chamou a atenção de que não
era “Alcova” e sim, “Alcôva”, a palavra contida no verso “...o que será, que
será, que andam sussurrando pelas alcovas”. Muito apropriadamente, Simone,
nordestina arretada, explicou que era baiana, e que baiano fala alcova, e não
alcôva. A gravou “alcova” mesmo, mostrando toda sua baianidade.
É isso aí. Luciano quando pronunciou
“êxtase”, deu som de S ao Z, e repetiu várias vezes “Êstase”, e creio que foi o
que levou o rapaz a vacilar e errar uma palavra tão fácil. Em algumas regiões
do Brasil o falar tem essas bossas. “E” é “Ê”, “O” é “Ô” e por aí vai. A
pronúncia das palavras também é um horror. Eu tinha um colega de trabalho que
era do interior de São Paulo, e quando ele falava puxava tanto pelo “R” que às
vezes eu tinha a impressão que o “R” ia ser arrancado alfabeto.
Tem também problema das letras e grafias
inúteis. O “H” é o maior exemplo de letra inútil no nosso alfabeto. Alguém aí
sabe pra que serve o “H”? AH! Sei. Há palavras que são grafadas com “X” e
outras com “CH”. Certo. Certo. Mas, se o “CH” tem som de “X”, por que não
grafar a palavra logo com “X”? Xaveco, xamêgo, Xica, Xapa, Xumbo, Xefe, e por
aí vai. Aliás, um amigo meu diz que “Chefe é Xefe até com X de xereca”.
O “X” também faz confusão com o “Z” e
com o “S”. Se a palavra é “exarar”, com o “X” assumindo o papel do “Z” por que
não grafar “ezarar”? E caso você case, como vai saber se seu estado civil é
“casado” ou “cazado”? Melhor ficar solteiro, ou “sorteiro” que, segundo Seu
Creisson é um sujeito de muita sorte. Vá confundir a cabeça do cão!
Já passou da hora de buscarmos
simplificar a fala e a escrita. O mundo globalizado está a exigir uma língua
universal. Já existe o Esperanto, mas alguém aí fala Esperanto? Alguém sabe onde
se ensina Esperanto? Alguém está interessado em Esperanto? Não conheço ninguém.
Pois é. Se nem conseguimos eliminar os regionalismos, como esperar que o
português falado no Brasil seja igual ao de Portugal, ou que haja uma língua
universal?
O título desta crônica é um exemplo de
um dos mistérios da escrita humana , contatado por estudiosos, que afirmam que
mesmo faltando letras o cérebro pode ler frases mesmo faltando letras nas
palavras, apenas pela compreensão do teor da frase. Aliás, os jovens já
descobriram isso e desenvolveram um modo novo de escrever economizando letras e
ganhando tempo. É o Internetês.
Agra c da lçnça q vou tlc noto lgar q
isso mex cum miha kbça. Fuiz!
Um comentário:
Veja bem, e ele é carioca. Carioca não fala "ês-ta-se", fala "esh-ta-se", com aquele som puxando pro "x". Ele deve ter forçado aí, querendo "falar bonito". E tem tem gente que pronuncia "ecs-ta-se" (como a droga, e por causa dela).
Seja como for. Na boa... Um pouco a mais de leitura e o menino saberia como escreve uma palavra tão comum dos romances brasileiros.
Anyway, sim... eu concordo que a nossa escrita deveria ser mais parecida com a fala. :P
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