segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Eu sou Ninja

Um dia desses vi uma postagem com um espécie de "dicionário" da linguagem utilziada pelos jovens atualmente. Até brinquei com meu filho que precisava de umas aulas para poder conversar com ele e os colegas, no que ele me respondeu que esse linguajar é mais utilizado pelo pessoal do Rio de Janeiro e São Paulo, que aqui na Bahia a linguagem é outra. Bom, lendo este artigo de da professora e psicóloga carioca Mônica El Bayeh (foto), me vi dentro do texto e resolvi postar aqui no nosso blog.   
É um post sinistro. Vai ler? Demorou!
 Sou do século passado.  De uma época distante, onde ”sinistro” era clima de filme de terror. Adjetivo ligado a coisas que despertavam certo medo e arrepios.  Nunca imaginei que um dia viraria elogio.

¨Eu sou ninja¨ queria dizer que você era do mal, mercenário, fazia qualquer coisa por dinheiro, se vestia de preto, aparecia de repente pulando de algum lugar e parava em poses desconfortáveis para dar um charme à cena.  Hoje, falar que é “ninja” equivale a dizer que você é…”sinistro”.

As pessoas também adquiriram o hábito de se autodescrever por apelidos do pênis e algumas de suas funções. Funções que, na minha época, serviam para xingamentos e reclamações.  Hoje, servem para autopromoção. O que continua como no século passado é o machismo que determina que só o masculino sirva para elogios.

“Peidou!” não queria dizer que a pessoa desistiu de algo – mas que ela havia soltado gases desagradáveis, empesteando o ambiente.  Ainda na minha época, para provar inocência, era obrigatório mostrar as palmas das mãos, rezando para que não estivessem amarelas.  Se estivessem, estava decretada a sentença.  Você era o “peidão”.  Ser “peidão” não queria dizer ser covarde.  Mas sim que, a partir daquela constatação, as pessoas tomariam mais cuidado antes de sentarem perto de você.  A direção do vento seria uma informação importante dali em diante.

A primeira vez que escutei a expressão “demorou”, comecei rapidamente a me desculpar. Demorou, que eu soubesse, queria dizer que alguém tinha se atrasado. Era reclamação na certa. Aflita, buscava na mente as explicações para me justificar, quando percebi pelos rostos felizes das criaturas, que estava sendo elogiada.  Sim, eles tinham é gostado da minha proposta. Gostaram da minha proposta?  Sinistro!  Fiquei aliviada.  Quer dizer que eu tinha acertado.  Viu?  Eu sou Ninja mesmo!

“Caraca” era camada de sujeira muito encontrada em crianças.  A constatação da caraca vinha seguida da frase gritada:  já para o banho!

Hoje, ”caraca” vem como exclamação. E, muitas vezes, reclamação. E, para ser devidamente pronunciado, deve ter o segundo “A” prolongado: ”caraaaaca!”

“Peraí” antigamente era “espere aí”.  E queria dizer que você seria atendido logo logo.  Era apenas uma questão de minutos.  Hoje em dia, ¨peraí ¨ou seu sinônimo “calmaí” querem dizer exatamente  “tenha calma, espere bastante, porque eu vou demorar (no sentido antigo) – e muito”. O suficiente para você esquecer a ordem dada, e não perturbar mais.

Atualmente, ”caraca” ainda aparece muitas vezes associado à frase ”já para o banho!”.  Vem como resposta à ordem fatídica.  E muitas vezes agregado de um ”peraí” ou “calmaí”.  O que demonstra que uma briga de poder foi instalada.   Trata-se de um cabo-de-guerra para ver quem é mais…”ninja”. Minha sugestão?  Mande logo para o banho.  Seja firme!  Não peide! 

Outra: neurótico era conceito psicanalítico. Criado por Freud, que deve ter rolado muitas vezes no túmulo com o novo uso do seu vocábulo. Mas neurótico agora é sinônimo de legal, sinistro (não o antigo, o atual). Entendeu? Sinistro! Então você é ninja também! Demorou!!!!
 
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Mulher 7×7
 

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