
Essa pequena frase, “a expectativa é a mãe da merda”, me deu um
clique: ela resume boa parte dos problemas autocriados em nossas
relações. Ao inflacionarmos as expectativas em relação ao outro e a nós
mesmos, compramos um ticket só de ida rumo a terra da irrealidade
cotidiana: a terra dos “príncipes encantados”, das
“mulheres-para-sempre-ninfas”, dos casamentos irretocáveis, das famílias
ideais, dos empregos estáveis e daquele novo tempo verbal que só existe
na timeline do Facebook: o “presente-mais-que-perfeito”, onde tudo é
sucesso e todos são incondicionalmente felizes.
Então quer dizer que bacana mesmo é aceitar qualquer coisa e lamber
os beiços? Claro que não! Um grande amigo costuma citar Disraeli
(Benjamin Disraeli, escritor e político inglês) sempre que alguém começa
a ceder ao impulso da acomodação, “A vida é muito curta para ser
pequena!” afirma. Eu concordo. Mas ela é também longa o bastante para
observarmos o que não está funcionando, sobretudo aquilo que nos afasta
do humano. E a perfeição é definitivamente sobre-humana: a antessala da
distância, do afastamento e da frustração.
Há muito o que aprender com o que nos irrita. Talvez desejemos
encontrar no outro a compensação para nossos conhecidos defeitos de
fábrica. Na peça Entre Quatro Paredes, Jean Paul Sartre coloca na boca
do personagem Garcin a famosa frase “O inferno são os outros”. Talvez
seja mais fácil acreditar que é possível exportar nossos infernos
pessoais do que olhar para dentro em busca de pistas ou para o lado com
mais generosidade.
Num mundo onde os mapas antigos já não indicam o caminho, onde a
transição se tornou permanente e onde os modelos ideais faliram, vamos
demorar algum tempo até encontrar o que pôr no lugar. Enquanto isso, é
tentativa e erro. Nesse processo, toda a atenção é pouca. Se a
expectativa exagerada é mesmo a “mãe da merda”, que tal começarmos não
nos deixando enganar por esse novo tempo verbal, o tal
“presente-mais-que-perfeito”, e tentar construir, de coração aberto, uma
gramática do possível?
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