sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Da importância da beleza como elemento do planejamento urbano


Enquanto não temos as condições ditas essenciais para a sobrevivência - saneamento básico, transporte, habitação, emprego, segurança, saúde, educação-, atendidas, é muito difícil prestarmos atenção a um elemento tido como supérfluo no planejamento urbano: a beleza. A funcionalidade parece exigir o sacrifício do encanto. Hegel, no entanto, nos diz que a beleza é uma das armas mais poderosas que o homem possui para superar seu destino trágico, e nada mais trágico que uma cidade que não nos cativa.
Jan Gehl, o extraordinário arquiteto que reinventou Copenhague e que me fez ir a São Paulo para ouvir uma palestra sua, diz que precisamos fazer uma Cidade Para Pessoas- não por acaso título de seu livro-, e que a dimensão humana, e não o automóvel, deve ser o verdadeiro objetivo do planejamento urbano.

A primeira vez que pensei na cidade como um elemento influenciador foi ao ler o seminal livro de Jane Jacobs: Morte e Vida das Grandes Cidades. Desde então, busco entender qual elemento, além da urbanidade, é capaz de enternecer minha alma, enraizar-me, e fortalecer a idéia que meu coração está onde estão os meus pés, me ajudando a superar o trágico destino.
Acho que a beleza é esse elemento, pois, ela é capaz de vencer nossas resistências, despertar o sentimento de cuidado e preservação, estimular o orgulho da pertencência, elevar a autoestima do morador e a generosidade. A beleza excita, e conquista. Diante dela somos os fragéis que queremos apenas, permanecer.
Não é a toa que ao visitarmos um lugar vamos atrás de suas ruínas cheias de histórias, dos encantos produzidas pela geografia e destino, os monumentos das Igrejas e colossos da engenharia ou arquitetura. Buscamos ruas bem cuidados, calçadas livres e seguras, arborização, sinalização, áreas de convivência harmônicas, lagoas preservadas. A grandiosidade, ou o refinamento, nos deixa em êxtase e euforia. O homem é a alegria do homem, diz o poema épico islandês Hávamál, por isso a cidade precisa ser pensada como um grande espaço de encontro humano, de satisfação pessoal.
Assim, a cidade não precisa apenas cumprir sua funcionalidade executiva- uma obrigação-, mas ter esmero, sensibilidade, em sua execução administrativa, para ser bela.
A desordem nos desumaniza, o descuido nos fere, a feiúra urbana, nos deprime e amputa, ao contrário da beleza que faz com que nossas pernas se dobrem diante dela.
Jan Gehl, diz que nós moldamos a cidade e a cidade nos molda. É nosso dever lutar pelo que queremos parecer.

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