Crônica de Segunda

 Fé

“Fé demais não cheira bem”. Desculpem o trocadilho infame, mas trata-se de uma verdade, embora dita de forma galhofeira. Como diz minha “mãe” Ada, “todo exagero é pernicioso”. No popular, “tudo demais é sobra”. Enfim, o que quero dizer é que em tudo devemos por uma medida. Nem mais, nem menos. Mas a medida exata.

         Comer é bom e necessário. Mas comer demais faz mal, nos faz sentir mal, engordar, ficar obesos. Assim é a fé. Não existe efeito sem causa, logo, algo ou alguém criou o universo. Entendendo que há uma força criadora do universo ao qual pertencemos, e ao qual devemos a nossa existência, temos que refletir sobre isso, tentar descobrir de que forma devemos nos comportar perante Ele e para com Ele, quem quer que seja “Ele”. 

        O certo é que estamos aqui. Existimos. Temos que dar um sentido para nossa existência. Do contrário, de que valeria a pena existir? Se eu não acreditasse numa vida após a morte, num propósito para minha existência, eu bem que poderia passar sem as dores de viver. Ou será que tem alguém aí que viva sem dor?

         É verdade que a dor, o sofrimento, fortalece o nosso corpo e o nosso espírito. Mas daí a nos flagelarmos tentando expiar uma culpa que não temos, vai uma diferença muito grande. Isso é fanatismo, é exagero. E exagero, faz mal, é pernicioso. Os desafios do dia a dia nos são colocados por Deus, que, segundo a sabedoria popular, “dá o frio conforme o cobertor”. Isto é, na medida certa. Se Deus sabe que não vamos suportar o fardo, ou que ele nos será muito leve, cuidará para que recebamos a medida justa de sacrifício.

         Não adianta passar o dia rezando. Murmurar preces sem saber o que se está dizendo e não viver conforme os ensinamentos divinos. Conheço muito carola que vive na base do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. É como se acreditassem que, porque passam a vida rezando, estão livres para pecar. Ou, no mínimo, acham que todos os seus semelhantes são “otários”, pois acreditam que eles acreditam em Deus.

         Ter fé é não se desesperar. Acreditar que essa vida é passageira e que temos que tirar dela o que há de melhor. É saber que cada dia vivido é uma etapa da missão que nos foi confiada. É acreditar em si mesmo e nos outros. É viver em harmonia com tudo e com todos à sua volta, confiantes de que o universo estará conspirando em nosso favor.

         Desconfie de quem tentar lhe impor crendices, religiões e seitas, como se fossem meios de salvação. Salvar do que? De quem? A fé nasce espontaneamente em nossos corações. E as pessoas que atendem ao chamado Divino, sabem instintivamente no que devem acreditar. Deus nos permite escolher onde e como viver, e não cobra aluguel pela estadia.