Aqueles, como eu, pródigos em amores sucessivos ou superpostos, hormonal juventude à flor da pele; os arteiros aprendizes da arte de viver, alvos certeiros de tremores e temores ante o desconhecido; aquela “gente jovem reunida na parede da memória” comigo dividiu tantas histórias; tudo isso faz a gente cair na realidade.
Neste momento, acode-me certa dor malvada por estar com eles e não mais poder ser ouvido, ouvi-los nem tocá-los.
Em meio ao vozerio no instante evocado, por sobre ombros de alguém, miro instigante olhar de saias, refletido por oportuno espelho a duplicar caras e bocas.
Paixão instantânea.
Outra paixão; são incontáveis e inesquecíveis as mulheres que amei em minutos de eternidade.
Uma única, entretanto, é paixão por toda a vida: a própria vida.
Asseguro, assim será até o instante do tombar na tumba, em cujo ato cerram-se as cortinas da “divina comédia humana”.
Antecipo-me ao caos da sabida e inescapável solidão tumular: deixo vestígios, os quais o tempo não conseguirá lançar ao poço do esquecimento; deitei raízes eternizando-me pela descendência. Assim, não mais me (pre) ocupo com o futuro ante a visão do prazo validade-vida; prazo tal, longe vai.
Enquanto tenho espaço e tempo, detenho um corpo - habitáculo onde meu pensar aflora -, recordo versos de canção bem-vinda; de Belchior, saudade infinda.
“Eu vos direi, no entanto
enquanto houver espaço, corpo, tempo
e algum modo de dizer não,
eu canto.”
Canto a vida, a maior das paixões da humanidade.
Não necessito projetar ideias sobre outra existência;
a atual me basta com seus sensos, incensos e defeitos;
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