Eu me surpreendo quando, em pleno século 21, ainda escuto pessoas falando sobre estas lendas do folclore brasileiro. Mas, não fico incomodado porque sei que elas sempre farão parte da nossa cultura. Mas, me divirto muito com as “estórias” que se renovam sempre. Creio que, se colonizarmos a lua, nas comunidades que fundarem por lá, pelo menos um lobisomem ainda irá aparecer. Quiçá, um Chupa Cabras, seu parente mais próximo. É certo que ainda existem muitos fenômenos e aparições de criaturas e objetos que a ciência ainda não esclarece, talvez até por conveniência, mas não dá pra voltar à idade média. Já avançamos demais.
Mas, o
fértil imaginário popular não para de me surpreender. Passei a semana do São
João no pequeno povoado do Bastião, em Retirolândia, onde eu e Maura revimos
parentes e amigos. Num desses felizes momentos encontramos Regina, prima de
Maura, viúva do melhor amigo que fiz por lá, o “Nando”. Revi também seus
filhos, que eram crianças quando da última vez que estive por lá, e hoje são
adultos e adolescentes. Muitas saudades
e, também muitas estórias.
Nando era
parceiro de pescaria e de cana, mas andava de moto. E numa pescaria que fui de
carona na moto, nós caímos, devido à chuva e a lama escorregadia. Nada de mais,
mas quando chegamos ao bar mais próximo, alguém comentou: “Todo ano Nando leva
uma queda de moto”. Daquele dia em diante toda vez que eu chegava lá e ele me
chamava pra ir a algum lugar, de moto, eu perguntava: Tu já caíste esse ano? E
foi ele quem me afirmou ter visto, entre umas pedra, um animal que ele nunca
tinha visto antes, e que se parecia com uma macaco. Uma espécie de gorila. O
animal sumiu no meio do mato e ele nunca mais voltou a ver.
Eu estou
contando isso porque foi justamente um filho dele, um dos gêmeos, Flávio, que
me contou a estória que eu passo a lhes contar. Segundo ele, a cadela de um
vizinho teve uma grande ninhada. Quando os bichinhos tinham pouco mais de uma
semana, começaram a desaparecer. O dono então resolveu chamar Nando e mais dois
vizinhos pra botar uma tocaia pra pegar o ladrão, ou ladrões. Eles se
posicionaram aos pares perto do lugar onde estavam os cães para vigiar a
ninhada. De repente, um deles veio chamar os demais dizendo que tinha um
“Labisone” de pé junto à ninhada e olhando para os cachorrinhos.
Quando
chegaram ao local, não viram nada e, armados com espingardas e facões, saíram
procurando em volta do local. Foi quando um deles viu, atrás de um amigo, o
bicho já bem perto, se aproximando pelas costas, e gritou: “Cumpade, olha o
bicho aí atrás de tu”. O homem estava armado, mas em vez de atirar no bicho, só
teve ânimo para pegar a espingarda pelo cano e bater com ela no animal
gritando: “Labisone fi do cabrunco”!
O bicho
saiu correndo e nunca mais foi visto por aquelas redondezas.
E como
diria minha avó: “Entrou por uma porta e saiu pela outra, quem quiser que conte
outra”.
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