O papagaio do Monsenhor
Ele viveu algum tempo na região
de Cícero Dantas, na época em que meu pai era delegado de Novo Amparo, hoje
chamado Heliópolis. Naquela época, o padre Renato, como era chamado por lá,
fazia política partidária, e era contra o partido do meu pai. Ele vivia às
turras com minha mãe, D. Dezinha, que o que tem de baixinha tem de atrevida. E
eu inventava estórias envolvendo eles dois, e contava pra ele, que ria um
bocado.
Uma destas estórias foi sobre quando ele foi pedir a meu pai
autorização para fazer um comício. Meu pai deu, mas advertindo-o de que não
passasse com a passeata em frente à Delegacia, para não parecer que o padre
estaria afrontando o delegado, seu adversário político. Quando minha mãe
percebeu que a passeata vinha pela rua da Delegacia, gritou para meu pai (que
morava nos fundos): Olha, Totonho, Padre Renato vai passar bem aqui em frente.
Meu pai não ligou, mas ela foi tirar satisfações. É aí que eu entro, dizendo
que, por ele ser mais alto, se abaixou para ouvir o que ela tinha a dizer. Foi
quando ela o pegou pelo colarinho sacudindo e ele se levantou levando ela
junto, sacudindo as pernas no ar...
Mas a melhor estória que inventei com Monsenhor Galvão foi
sobre um papagaio que ele tinha. O “louro” não sabia falar quase nada, e alguém
quis ensina-lo a dizer “Monsenhor Galvão”. Só que o bicho vivia repetindo:
“Morra Galvão, morra Galvão”! Era o dia todo naquela cantilena. Um dia,
Monsenhor Galvão foi visitar Padre Gessé, e lá encontrou um jovem papagaio,
falando pelos cotovelos, cantando ladainhas e fazendo orações. Recitava uma
missa inteirinha.
Entusiasmado, Monsenhor Galvão pediu: “Oh! Gessé. Me empreste
esse papagaio, pra ver se o meu aprende alguma coisa com ele”. Padre Gessé não
se fez de rogado. Quando Monsenhor Galvão colocou o papagaio junto com o dele,
a cantilena começou: Morra Galvão, morra Galvão, morra Galvão....
O papagaio de Padre Gessé se limitava a responsar, cantando:
Senhor, atendei à nossa prece...
NE: Publicada no livro A Levada da Égua e Outras Estórias (2003)
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