Coronel Inhozinho
Coronel Inhozinho era um sujeito valente e decidido. Também era muito pragmático em suas decisões. Quando o governo se mostrou impotente para coibir os “pegas” de automóveis que os “playboys” da cidade faziam na sua rua, ele, com recursos próprios, mandou fazer quatro quebra-molas e tacou uma sinaleira no cruzamento da esquina da sua casa. E ficava ele mesmo na porta, fiscalizando. Quem passasse a mais de 80 Km por hora, ele mandava bala. Furou a lataria de muitos carros.
Um dia, o jornalista Edson Borges, então chefe de reportagem do Jornal Feira Hoje, mandou fazer uma matéria protestando contra os quebra-molas, e o coronel foi até o jornal tirar satisfações. E ameaçou fazer Edson engolir o jornal, seco, se saísse mais alguma coisa sobre o assunto. Edson se limitou a perguntar: “Mas tem que ser seco, coronel? Não posso passar nem uma manteiguinha”?
A lógica do coronel Inhozinho também era singular. Certa vez
ele entrou numa farmácia e pediu ao balconista que lhe aviasse uma receita. O
rapaz trouxe os comprimidos e, quando ele perguntou o preço, o rapaz disse que
custava R$ 2 Reais. O coronel reagiu imediatamente, seguindo o seu lógico
raciocínio. “Não quero não, pode guardar. Se os remédios caros não estão
resolvendo, não é essa porcaria barata que vai resolver”.
Quando seu médico suspeitou de que ele estaria com o
apêndice inflamado, tirou-lhe uma amostra de sangue, no dedo, para examinar.
Ele perguntou: “Pra que é isso, doutor”? Quando o médico lhe explicou que era
para examinar o sangue, ele protestou: “Ora, doutor. Só isso. Não dá pra nada.
Olhe, tire meio litro aqui da veia, bote pra coalhar, amanhã de manhã o senhor
retalha e vê se tá bom”.
Com o apêndice inflamado, ele insistia com o doutor de que
um pouco de óleo de rícinio lhe faria bem. O médico, claro, proibiu
terminantemente: “O senhor está louco, coronel. Nada disso. O senhor vai é
tomar estes medicamentos, e amanhã cedo passo aqui para lhe examinar”. No dia
seguinte, quando o médico chegou à casa do coronel, ele já não estava, e a
mulher lhe informou: “Ah, doutor. Aquele homem é muito teimoso. Assim que o
senhor deu as costas ele bebeu meio litro de óleo de rícinio e, a esta hora, já
deve estar pra lá de Jequié”.
Quando lhe roubaram um Jeep, o coronel Inhozinho mandou
“passar um rádio” para todos os postos da Polícia Rodoviária, a fim de
interceptar o carro. Não teve resultado.
Certo dia, prenderam um ladrão, e este confessou que tinha
roubado o carro do coronel e levado para Salvador. De posse de uma autorização
do delegado, o Coronel pegou um ônibus e foi pessoalmente buscar o Jeep. Quando
retornava, um policial o parou no posto de Simões Filho, e pediu os documentos
do veículo. Em seguida, declarou: “Este carro vai ficar preso. Esse carro é
roubado”.
Foi o suficiente para enfurecer o coronel, que explodiu,
travando o seguinte diálogo com o guarda:
-
O que, cabrunco? Vocês não prenderam o ladrão, e querem
me prender, que sou o dono do carro?
-
De onde o senhor vem?
-
Dos infernos.
-
Pra onde o senhor vai?
-
Pras profundas.
-
Como é o nome do senhor?
-
Estopô!
Disse isso e já saiu “rasgando” uma primeira, jogando poeira
na cara do guarda.
Assim era o coronel Inhozinho. Um sujeito valente e, muito
prático.
NE: Publicada no livro A Levada Égua e Outras Estórias (2004)
Nenhum comentário:
Postar um comentário