Estava eu numa reunião quando
alguém disse que não devemos sofrer por coisas pequenas. “Devemos sofrer quando
perdemos um ente querido”, exemplificou. Concordo que não devemos sofrer por
coisas pequenas. Mas também não podemos encarar a morte como uma perda e sofrer
com a sua presença ou sua perspectiva. Ao longo dos anos estive várias vezes na
presença da “Velha da Foice” e até mesmo a encarei e não senti tanto medo.
Antes de tudo, devo dizer que
cedo percebi que a única certeza que tinha na vida era a morte. Tudo mais é
alternativo. E a vida foi me ensinando sobre o que é a morte e como lidar com
ela. Descobri que ela não é um fim, mas um recomeço. Não é um castigo, mas pode
ser um alívio ou mesmo um prêmio por uma missão bem cumprida. Notem que eu
disse que não sinto “tanto” na presença da morte, o que significa que não sou
totalmente insensível a ela.
Recém saído da adolescência,
perdi minha velha babá. Chorei copiosamente. Mais tarde perdi meus pais,
irmãos, parentes, amigos. Mas aí eu já não sentia tristeza, e sim saudade.
Conforta-me o fato de sabê-los seguindo suas jornadas, cumprindo as leis
universais.
Eu não cultuo a morte. Vou a
velórios ou enterros por obrigação social, mas sabendo que nada posso fazer
pela pessoa falecida, senão orar a Deus por ela. E nada que eu diga vai minorar
a tristeza dos familiares. Só o tempo resolve isso. O tempo e a fé. Fé no poder
divino que criou e rege o universo, e obediência às suas leis.
Não visito túmulos para orar
ou celebrar rituais religiosos. Ali não há nada da pessoa que eu gostava, senão
restos materiais. A alma, o espírito, a essência que animava aquele corpo há
muito partiu. Esporadicamente, quando vou ao cemitério procuro ver como está o
jazigo da minha família, e, caso necessário, mando limpar ou consertar, porque
outros membros da família serão enterrados ali. Apenas por isso.
O fato de não temer a morte,
também não significa que não preservo a minha vida. Claro. Deus me deu o dom da
vida, e só ele poderá tirá-la de mim, por morte natural, acidente ou agressão
Mas nunca me vou suicidar. Também não exponho a minha vida a riscos inúteis.
Deus precisa de almas corajosas, não tolas.
Preservo minha vida tanto
quanto busco preservar as vidas das pessoas que me cercam. Faço o que estiver
ao meu alcance para preservar uma vida, mesmo de pessoas estranhas. Quem me
conhece sabe disso. Alegro-me quando
consigo e entristeço quando não. Por fim, devemos sempre lembrar o que disse
Jesus: “Qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que,
por amor de mim, perder a sua vida, a salvará. (Lucas 9:24).
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