terça-feira, 21 de abril de 2020

As curvas não são mais as mesmas


É ela menina/ que vem, que passa
Num doce balanço a caminho do mar”
“Olha que coisa mais linda/ mais cheia de graça
Sempre achei a curva uma vitória da beleza sobre a monotonia da reta. Na arte, arquitetura, bola, e tudo que nos rodeia. No entanto, nada está – ou esteve, já que a liberdade de olhar não é mais a mesma-, mais impregnado no imaginário masculino do que o encantamento do homem com as curvas que compõem uma mulher. Isso, desde os tempos da savana em que escolhíamos a homo-sapiens ideal para repartir um javali no escurinho da caverna. Ninguém te olha como eu olho, dizia ele para a selvagem e bela ao seu lado, em dialeto gutural e intenções óbvias, afinal, tudo valia pela perpetuação da espécie, mesmo que pudesse acabar em live do Luan Santana.

A sinuosidade de uma mulher- tão perigosa e fatal quanto as curvas da estrada de Santos-, desenhada de forma perfeita e alucinante nos lábios, seios, bunda, essa tríade machista e hétero de analise anatômica, essa tríade de comprovação da excelência do designer divino, devastou corações, afundou Tróia, criou reinos, e poemas imortais.
O mestre Vinicius com seu uisquinho, e Tom, sentados no bar Veloso, levaram a curva a sua apoteose, e nos deram régua e medida para o imaginário. Certo que o politicamente correto tem se esforçado para não deixar curva sobre curva, e ela deixou seu protagonismo.
De repente, no entanto, a curva voltou aos discursos, ao imaginário, aos debates entre cientistas, e em toda roda de conversa e nos tornamos especialistas em seus efeitos. Passamos a cobiçar a curva perfeita porque dela depende nossa salvação- ou pelo menos a vaga no sistema de saúde-, e, ao contrário da outra , em que sonhávamos com sua voluptuosidade, nessa queremos que ela seja a mais chata possível.
"Ah, se ela soubesse/ Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo/ Por causa do amor"
Cada tempo tem a curva que lhe cabe. Se possível, fique em casa,

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