A fisioterapia
respiratória pode ser necessária mesmo em casos menos graves de
coronavírus, segundo o coordenador do Laboratório de Pesquisa em
Reabilitação Pulmonar da Universidade Veiga de Almeida, Yves de Souza.
Os exercícios para recuperar a capacidade respiratória já são usados
após períodos de internação em unidades de tratamento intensivo (UTI),
mas podem ser importantes mesmo nas situações em que a pessoa se tratou
em casa, disse Souza.
Souza explicou que, como uma doença nova, a
covid-19 ainda está sendo estudada, porém, as pesquisas mostram que
muitos pacientes apresentam sintomas ligados à perda de capacidade
respiratória após ficarem doentes. “Mais ou menos 30% das pessoas que se
curam da covid-19 têm uma redução importante da capacidade pulmonar”,
ressaltou.
Nos casos de internação, esse problema é
causado, segundo o fisioterapeuta, tanto por danos da doença como pelo
processo de internação em si. “Esses pacientes são submetidos a altas
doses de sedativos, altas doses de medicamentos antiflamatórios, para
tentar controlar essa inflação aguda pulmonar. Essa mistura dos
medicamentos, mais o tempo do paciente parado na UTI, respirando através
de um equipamento de ventilação mecânica”, enumerou os fatores que
podem prejudicar as funções respiratórias.
Sintomas após a alta
De acordo com o fisioterapeuta, quando o
paciente se cura da covid-19 "ele acaba tendo manifestações não apenas
pulmonares muito graves, como fraqueza muscular de difícil recuperação,
com impossibilidade de retornar as atividades cotidianas imediatamente”.
Souza destacou que o coronavírus tem
apresentado a capacidade de causar lesões nos pulmões dos infectados.
“Esse líquido inflamatório nos pulmões causa algumas lesões internas no
órgão do pulmão que acabam se comportando como cicatrizes. Essas
cicatrizes vão influenciar de forma negativa na oxigenação da pessoa
mesmo depois dela ter alta da doença”, explicou.
Esses problemas afetam, segundo o
especialista, não só os que passam por longas internações, mas até os
que não chegam a passar pelos hospitais. “As pessoas que se tratam em
casa e depois que estão sem sintomas em um determinado tempo, eles
simplesmente recebem alta. Grande parte desses pacientes acabam se
queixando de falta de ar, de cansaço, coisas que antes da doença
aparecer não existiam”, disse.
Primeiros dias
Para tentar amenizar esses efeitos, Souza
disse que é fundamental que as pessoas iniciem a fisioterapia
respiratória tão logo estejam curados dos sintomas mais graves. “As
pessoas que apresentam esse tipo de sintoma, a gente sabe hoje, pela
literatura científica, que os primeiros sete dias depois da alta são
decisivos para o desfecho da recuperação funcional desse indivíduo”,
enfatizou.
O processo de reabilitação envolve, de
acordo com o especialista, exercícios físicos e respiratórios, que
apesentam resultados em um prazo de seis a oito semanas. O treinamento
específico para a musculatura respiratória é feita a partir de um
dispositivo específico que promove uma resistência calculada no ato de
inspirar, forçando a musculatura a trabalhar mais.
“Nós fazemos uma avaliação no paciente e
quantificamos qual é a resistência ideal para que não canse o paciente
e, ao mesmo tempo, promova ganho de força muscular da respiração. Esse
paciente faz algumas repetições através desse aparelho”, disse.
O trabalho é complementado por atividades
físicas leves, que não envolvem o uso de pesos ou outros aparelhos. “São
exercícios muito simples, talvez algumas pessoas até já pratiquem no
seu dia a dia ou tenham visto em algum lugar. A grande diferença é a
prescrição. A prescrição do exercício que faz a diferença na hora do
resultado”.
Consultas gratuitas
A Universidade Veiga de Almeida, com sede no
Rio de Janeiro, tem feito consultas gratuitas para pacientes em
recuperação da convid-19 por teleconsulta. A possibilidade de
atendimento remoto foi liberada em março por resolução do Conselho
Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional devido a pandemia do
coronavírus. A equipe conta com 200 alunos voluntários e tem capacidade
de atender a 400 pessoas. (Agência Brasil)
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