domingo, 26 de abril de 2020

Uma dúzia de coisas sobre Bolsonaro x Moro


1-A parceria Bolsonaro-Moro falhou e deixou um ambiente de pandemia na esperança do brasileiro de combate a corrupção, enfrentamento ao crime, e a criminalidade violenta. Ambos se tornaram devedores a Sociedade

2- Moro foi o brasileiro que mudou o paradigma de combate a corrupção, prendendo políticos e empresários saqueadores, verdadeiros predadores do futuro e dos recursos públicos. Esse mérito não pode ser reduzido, nem apagado

3- Bolsonaro prometeu carta branca ao Ministro. Esse é um erro que nenhum administrador experiente comete. Ao fazer isso, tirando o juiz de sua carreira, tinha de honrar o prometido.

 4- Bolsonaro frequentemente deixou de apoiar o ex-Ministro, em suas iniciativas; em compensação, o ex-Ministro nunca defendeu verdadeiramente as posições do governo.

5- Bolsonaro tem o direito legal de nomear o diretor- geral, da PF, fato indiscutível; mas querer nomear como interferência política, ou para ter acesso a informes da PF, como ele mesmo diz, é inaceitável, inadmissível, porque a PF não é uma Polícia pessoal. Bolsonaro, como em outras ocasiões, não consegue separar o Estado dele mesmo. Não foi a toa que disse que ele “era a Constituição”

6- Ameaçado pelos processos da fake-news, no STF, e com deputados da base investigados pela PF por alimentar protestos contra o STF, e investigações sobre seu filho, Bolsonaro colocou uma urgência de mudança em um momento profundamente inadequado e por objetivo nada republicano. 

7- Bolsonaro tem todo direito de não gostar da performance de um Ministro e o demitir. É um direito presidencial. O problema, nesse caso, é o motivo pelo qual não gostou. A sua boa frase “o senhor tem uma biografia a zelar, eu tenho um país a zelar”, se perde na motivação 

8- Pelos fatos publicados, Moro, tentou negociar troca por outro delegado independente, mas Bolsonaro queria controle da PF. Ele se tornaria um fantoche. Desse modo, Moro fez certo e teve grandeza ao pedir para sair. Cresceu. 

9- Bolsonaro errou ao publicar a exoneração com assinatura de Moro, o que não existiu e foi retificado em outra edição do DO. Moro errou ao dizer que Lula e Dilma não interferiam na PF. Basta consultar os jornais para ver que é mentira ( FSP 9 e 11/9/2007 ) 

10- Moro, no entanto, cometeu sérios erros na saída. O primeiro foi demitir-se na coletiva, antes de entregar a carta ao Presidente, usando a estrutura do Estado e vazando sua retirada para a imprensa.

11- o segundo, fatal, e revelador erro de Moro, foi o vazamento de mensagens da deputada Zambeli, de quem foi padrinho de casamento. A deputada, pelo que lemos, em nenhum momento tentou barganhar com Moro, ao contrário, estava fazendo um esforço de mediação, demonstrado a importância de Moro, dizendo que o ajudaria a chegar ao STF. Não fez absolutamente nada, nada, nada, de ilegal. A frase do Ministro “não estou a venda, prezada”, soa agressiva, talvez, planejada, porque a deputada em nenhum momento deu esse tom. Foi desnecessário. O juiz, foi desleal ao sequer falar com a deputada que precisaria usar a mensagem,e publicar uma conversa pessoal. Mostrou que não é confiável, desse ponto de vista. Não precisava, pois, o Brasil sabe que é um xiita da honestidade. Deixou o ego vencer e reduziu o tamanho que tinha crescido. Caso tenha um mínimo de juízo pediria desculpas a deputada. 

12- Foi um episódio ruim para ambos, ruim para o Brasil, ruim para o momento. E suas conseqüências, impeachment - que não creio, pois, Bolsonaro já acenou ao pior da política, contou com silêncio de Maia que adora um presidente fraco, foi arduamente defendido por Roberto Jefferson, e Lula já disse que é preciso cuidado com essa ideia-, piora da economia, ou ascensão de volta ao poder do que gostaríamos de afastar, será um preço caro por essa cisão. E será um legado de ambos.

Nenhum comentário: