
Tento de alguma maneira não pensar nas cenas difíceis das despedidas
sem liturgias e do anonimato da morte. A história humana, no entanto,
sempre foi tocada ao ritmo de grandes perdas embora achássemos que os
tempos modernos, em que sondas espaciais já pousam em cometas, nos
tivessem garantido proteção contra isso.
É sábado, e passo o dia no plantão da dialise, com pacientes de alto risco. Sinto a densidade que existe na espera, como se o ar pudesse ser cortado com o bisturi. Os chavões, às vezes, dizem coisas reais. Estamos todos diferentes na sala, mascarados, evitando quebrar as barreiras, falar próximos, circular com objetos, e tensos com qualquer queixa de gripe. Lemos cada paper publicado com a esperança de um remédio que nos dê a liberdade do confinamento, mas que não se concretiza, embora saibamos cada vez mais dos poderosos estragos do vírus nos casos graves.
Celebramos altas, como afirmação a nós mesmos que é possível vencer. Faço exercício por uma hora quando chego em casa como um recado aos pulmões que, se preciso, eles têm o dever de aguentar. Agradeço, não ter fumado por mais de quinze dias. Sinto faltas dos filhos, impedidos de voltarem para casa. O dia é longo e toda certeza que temos não passa de uma cordilheira de isopor.
No intervalo, vou tomar um café e ouço da entrada da Copa, dona Geisa, funcionária, cantando: Porque ele vive, posso crer no amanhã/ Porque ele vive, temor não há, não há, não há.
Demoro ali, até ela acabar. Desafinado, cantava isso para ninar meus filhos. O canto é como um aditivo. E penso que temos ciência, proteção e solidariedade, para vencermos. Vamos ficar bem. Eu bem sei: temor não há, não há, não há..
É sábado, e passo o dia no plantão da dialise, com pacientes de alto risco. Sinto a densidade que existe na espera, como se o ar pudesse ser cortado com o bisturi. Os chavões, às vezes, dizem coisas reais. Estamos todos diferentes na sala, mascarados, evitando quebrar as barreiras, falar próximos, circular com objetos, e tensos com qualquer queixa de gripe. Lemos cada paper publicado com a esperança de um remédio que nos dê a liberdade do confinamento, mas que não se concretiza, embora saibamos cada vez mais dos poderosos estragos do vírus nos casos graves.
Celebramos altas, como afirmação a nós mesmos que é possível vencer. Faço exercício por uma hora quando chego em casa como um recado aos pulmões que, se preciso, eles têm o dever de aguentar. Agradeço, não ter fumado por mais de quinze dias. Sinto faltas dos filhos, impedidos de voltarem para casa. O dia é longo e toda certeza que temos não passa de uma cordilheira de isopor.
No intervalo, vou tomar um café e ouço da entrada da Copa, dona Geisa, funcionária, cantando: Porque ele vive, posso crer no amanhã/ Porque ele vive, temor não há, não há, não há.
Demoro ali, até ela acabar. Desafinado, cantava isso para ninar meus filhos. O canto é como um aditivo. E penso que temos ciência, proteção e solidariedade, para vencermos. Vamos ficar bem. Eu bem sei: temor não há, não há, não há..
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