Com a adoção massiva de medidas higiênicas para conter o novo
Coronavírus, o uso do plástico descartável – que nunca saiu de cena –
voltou a ganhar força. Entretanto, um grupo de cientistas declarou que
utensílios reutilizáveis não aumentam o risco de transmissão. É um
esforço para conter a sanha do lobby dos plásticos.
Virologistas, epidemiologistas, biólogos, químicos e médicos
estão entre os profissionais que dão o alerta. Eles afirmam que itens
descartáveis não são inerentemente mais seguros do que os reutilizáveis
e que, estes últimos, podem ser usados com segurança durante a
pandemia desde que se empregue a higiene básica.
A declaração foi assinada por mais de 120 especialistas de 18 países
diferentes e é voltada para varejistas e consumidores. Representando o
Brasil está Saulo Delfino Barboza, professor titular do Programa de
Mestrado Profissional em Saúde e Educação da Universidade de Ribeirão
Preto.
Pressão por descartáveis
Nos Estados Unidos, lobistas do setor de plástico já em março
pressionavam para revogação da proibição de itens descartáveis. Enquanto
em São Paulo, no mês seguinte, uma liminar do Tribunal de Justiça
suspendeu a lei municipal que proíbe copos, pratos e talheres de
plástico na capital. Já no Distrito Federal a Justiça manteve a lei que
proíbe canudos e copos plásticos, após ação da Associação Brasileira da
Indústria de Material Plástico (Abiplast).
Se por um lado a indústria de plásticos pressiona, por outro é
inegável que a crise de saúde pública forçou novos hábitos higiênicos -,
incrementando inclusive tarefas de limpeza na volta ao supermercado.
Foi com base nas discussões desencadeadas ate então que os cientistas
ressaltaram a segurança dos itens reutilizáveis.
Descartáveis versus reutilizáveis
Abaixo, você confere os principais trechos da carta assinada pelos cientistas:
- Evidências disponíveis indicam que o vírus se espalha principalmente pela inalação de gotas em aerossol, e não pelo contato com superfícies.
De acordo com os Centros dos EUA para Controle e Prevenção de Doenças
(CDC), “acredita-se que o vírus se espalhe principalmente de pessoa
para pessoa e entre pessoas que estão em contato próximo. Sobretudo, por
meio de gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infectada
tosse, espirra ou fala”.
Embora “seja possível que uma pessoa possa pegar o Covid-19 tocando
uma superfície ou objeto que contenha o vírus e tocando sua própria
boca, nariz ou possivelmente seus olhos”, as gotas em aerossol são o
único método documentado de transmissão de Covid-19 até agora.
- Produtos descartáveis apresentam problemas semelhantes aos reutilizáveis. Pode-se supor que qualquer objeto ou superfície no espaço público – reutilizável ou descartável – pode estar contaminado com o vírus. O plástico descartável não é inerentemente mais seguro que os reutilizáveis e causa problemas adicionais de saúde pública uma vez que é descartado.
- Produtos reutilizáveis são facilmente limpos. Os desinfetantes domésticos foram comprovadamente eficazes na desinfecção de superfícies duras, incluindo itens reutilizáveis.
Além disso, água e sabão são a melhor forma de remover o vírus seja para lavar louça, vestuário – assim como as próprias mãos.
Os especialistas ainda listam recomendações no cuidado dos utensílios de reutilizáveis em espaços de varejo.
Basicamente, a ideia é seguir os padrões higiênicos já previstos em
lei, que já são bastante rigorosos, e adotar práticas adicionais para a
Covid-19.
Os especialistas ainda reforçam a importância de proteger os
trabalhadores, o que inclui o fornecimento de EPI, além de ressaltar que
somente clientes devem manusear seus próprios itens reutilizáveis ao
consumir em lojas. Confira a declaração completa, em inglês.
O alerta é especialmente importante neste mês de julho onde organizações se unem para conscientizar e dar dicas de como reduzir o uso de plástico. Conheça o movimento: Campanha desafia brasileiros a reduzirem o uso de plástico descartável. (Terra)
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