sábado, 12 de setembro de 2020

Aniversário da Princesa


E vamos continuar nossa série de publicações em comemoração ao aniversário de Feira de Santana, que ocorrerá dia 18 próximo, falando da mais tradicional festa popular, a Festa de Santana, padroeira da cidade, que acontecia no mês de janeiro até o ano de 1987, quando eram realizadas a lavagem e a levagem da lenha.

A Festa de Santana

                Sant’Ana, a avó do Cristo Jesus, é a santa padroeira de Feira de Santana. Santa da devoção de Domingos e Ana, proprietários da Fazenda Sant’Ana dos Olhos D’água, donde se originou a cidade, tem o seu dia comemorado a 26 de julho, quando acontece a grande procissão que atrai milhares de fiéis, inclusive de outras paróquias da Arquidiocese, de outros municípios. Antecedendo a festa, que durante muitos anos acontecia no mês de janeiro, saiam antigamente os Bandos Anunciadores, vindos de diversos bairros da cidade. Eram formados por fiéis fantasiados, levando instrumentos e fazendo muito barulho, nas manhãs de domingo, para anunciar que a Festa da Padroeira se aproximava e iria começar a Novena de Santana, ao fim da qual, sairia a grande procissão.

         Esse costume perdurou até o início dos anos 80, quando o Bispo Dom Silvério de Albuquerque, juntamente com o prefeito José Falcão da Silva, puseram fim aos festejos profanos, limitando a festa, que passou a ser celebrada na data original, em julho,  apenas à novena e a procissão. 

        A parte profana acontecia paralelamente com a novena. Barracas de bebidas e comidas típicas eram montadas na praça da igreja matriz (hoje Catedral), e no correto as filarmônicas se revezavam a cada noite para entreter os fiéis que, como se verá, não eram tão fiéis assim. Havia também parque de diversões, música mecânica nas barracas, barracas de jogo de azar, leilões da paróquia e mais uma infinidade de atividades recreativas e sociais.  Quando a cidade não tinha iluminação pública, criou-se o costume de levar feixes de lenha para a praça e se acendiam fogueiras. Quando a energia elétrica chegou, esse costume se resumiu a um dia específico, com o nome de Levagem da Lenha, mas as fogueiras não eram acendidas, apenas os fiéis, saiam da missa dominical levando gravetos à guisa de lenha, se fantasiavam e percorriam as ruas próximas fazendo algazarra. 

        Havia também a Lavagem da igreja, quando os fiéis lavavam o adro da igreja e derramavam Água de Cheiro, diminuindo assim o mau cheiro que vinha das barracas e becos adjacentes. Também acontecia um cortejo pelas ruas centrais, onde as pessoas costumavam se fantasiar e fazer homenagens a seus ídolos ou protestos.

O bispo e a Barrakaçola

         O Bispo diocesano não andava muito satisfeito com os rumos que a festa profana estava tomando. Muitas brigas, bebedeira, barulho. Principalmente barulho, uma vez que ele morava numa casa localizada na praça, que ainda hoje é a morada do Arcebispo Metropolitano. Pra piorar as coisas, era montada todos os anos, bem em frente à residência do Bispo, a Barrakaçola, de Paulo Norberto e seu irmão Jorge, e era ponto de músicos, atores, estudantes, artistas diversos, que varavam a madrugada numa algazarra infernal. E piorou quando souberam do desejo do Bispo em acabar com os festejos profanos. O barulho agora vinha através de xingamentos e impropérios vindos dos frequentadores bêbados da Barrakaçola (a maioria hoje cidadãos exemplares. Inclusive os donos da barraca), o que deixou o bispo ainda mais contrariado.

             Dom Silvério insistia com os sucessivos prefeitos para acabar com a parte profana da Festa, mas não contava com o apoio destes. Que temiam perder votos com os “festeiros”. E assim a festa perdurou até o início dos anos 80, quando entrou na Prefeitura José Falcão da Silva, um homem muito religioso, que deu ouvidos aos apelos do Bispo, pondo fim à festa profana. E foi assim, ao contrário de Salvador, onde ainda hoje são realizados festejos profanos em várias igrejas, que tem como ícone a internacionalmente conhecia, Festa do Bomfim, Feira de Santana perdeu um dos seus mais originais festejos populares.

         A Festa religiosa ainda acontece e várias tentativas foram feitas para resgatar a parte profana, inclusive mudando o formato e o lugar, mas, sem sucesso. A Universidade Estadual de Feira de Santana resgatou o Bando Anunciador, que sai às ruas no primeiro domingo da festa religiosa, mas sai do Centro Universitário de Cultura e arte em cortejo único, que acaba na praça da Catedral. Mas, isso é uma outra estória que eu vou contar em outro dia.

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