segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Aniversário da Princesa

  Prosseguindo as publicações em comemoração ao aniversário da cidade, que ocorre no próximo dia 18, vamos falar de um homem à frente do seu tempo, que inseriu Feira de Santana na modernidade no que tange a arquitetura, Amélio Amorim, e sua parceira Irma Amorim, também reconhecida pelas suas artes.  Há quem diga que Amélio expressava em suas obras a poesia de Irma, e vice versa.

Amélio Amorim: pioneiro do modernismo na cidade

Em meados da década de 50, um jovem e talentoso arquiteto começou a remodelar o perfil arquitetônico de Feira de Santana. Homem à frente de seu tempo, Amélio Amorim desafiou as correntes de pensamento de sua época e inseriu Feira de Santana na modernidade, sem nunca deixar de lado o regionalismo, sempre procurando criar projetos adequados à realidade da região, introduzindo em construções materiais característicos do cenário sertanejo. Daí ter se tornado um referencial para a categoria”, conforme avalia o arquiteto e artista plástico, Juraci Dórea. Dono de uma mente criativa e sempre em sintonia com as novas tendências nacionais e mundiais, ele foi o pioneiro do modernismo na cidade. “É justamente essa visão modernista que marca a sua obra”, observa Dórea.

Filho do casal João Amorim e Maria Otília Teixeira de Amorim, Amélio nasceu em 21 de abril de 1929, na cidade de Coração de Maria. Desde a infância, revelou-se um desenhista talentoso. Das mãos hábeis e visionárias do jovem arquiteto, nasceram projetos inusitados, revolucionários, como a casa suspensa, localizada na Avenida Getúlio Vargas, construída em plano elevado, sobre pilares que a mantém distante do solo. Símbolo de arrojo e genialidade, o nome de Amélio Amorim ficou conhecido em todo o país. O arquiteto realizou importantes projetos em várias cidades brasileiras, como é o caso das 400 casas que planejou para a cidade de Ilha Bela, no litoral paulista.

Também é de sua autoria uma imponente residência situada em Londrina, no Paraná, famosa pelo belo painel que ornamenta a sua fachada. Amélio Amorim iniciou a sua carreira em 1956, com a concepção da Galeria Caribé, localizada na Praça da Bandeira. Depois ainda chamaram a atenção os projetos da residência de Francisco Fraga Maia, primeira casa que projeta na cidade. O prédio comercial da Casa das Lâmpadas, na esquina da rua Conselheiro Franco com a Praça da Bandeira, e o

Clube de Campo Cajueiro, construção arrojada, que tinha como destaque um grande salão circular, cujo teto não apresenta pilares de sustentação ao longo de seu vão. Vanguardista, determinado, ávido por conhecimento, Amorim percorreu o mundo, absorvendo novos conceitos e buscando inspirações para construir o que ninguém ainda havia edificado. Fez vários cursos fora do país, inclusive, cursou jardinagem e decoração.

Restaurante  Carro de Boi

Empreendedor, Amélio recorria a todo tipo de técnica e de material para concretizar uma ideia. Sonhava executar, integralmente, o projeto do Hotel e Restaurante Carro de Boi, grande obra que marcou sua vida, e o imortalizou para a história. Projetado para abrigar um importante polo turístico, o Complexo Carro de Boi não chegou a ser concluído. A morte precoce, aos 53 anos, provocada por um acidente automobilístico, ocorrido em 15 de maio de 1982, impediu o arquiteto de levar o empreendimento adiante. Hoje, o que foi construído da obra, se transformou no Centro de Cultura Amélio Amorim.

 Almas gêmeas 

         Aquele espírito inquieto descobriu em Irma Amorim a sua “alma gêmea”. Nascida em Feira de Santana, em 23 de março de 1934, filha de Antônio Alves Caribé e Izalda Mota Lima Caribé. Ao lado da sua amada, escritora, artesã, poetisa e produtora cultural, Amélio viu seu trabalho ir sendo reconhecido. O Restaurante Carro de Boi e a Boate Jerimum, trabalhos que marcam uma das fases mais excêntricas do arquiteto, saem da prancheta para se tornarem as principais áreas de lazer da cidade, bastante frequentadas pela sociedade baiana. Amélio Amorim empregou técnicas altamente modernas, aliadas ao uso de materiais rústicos, característicos do Sertão.

Boate Jerimum
 O arquiteto utilizou madeira, para forrar o chão, e piaçava, para cobrir o teto e as passarelas do Carro de Boi, no qual realizou a I Feira de Arte Total, em parceria com o cordelista Franklin Maxado. A mostra, que foi um sucesso de público, reuniu, durante dez dias, todas as modalidades artísticas existentes em Feira de Santana, vindo a se tornar um referencial da cultura local. Na boate, arquitetura e escultura se entrelaçavam. Projetada em formato de abóbora, modelada em cimento, ganhou também uma magnífica pista de vidro colorido. E, pela primeira vez, Amélio experimentou a bucha natural, muito comum na região de Feira, como isolante acústico.

         Paralelamente, Irma Amorim também era reconhecida pelas suas artes. Há quem diga que Amélio expressava em suas obras  poesia de Irma, e vice versa. O casal não teve filhos, mas adotou uma menina, Jurema, que lhes deu três netos. Irma foi diretora do Centro de Cultura Amélio Amorim (1986 a 1988); presidente da Casa da Amizade do Rotary Clube de Feira de Santana; Suplente de Conselheira de Cultura da Fundação Cultural de Feira de Santana; Sócia Fundadora da Associação Cristã Feminina; Sócia Fundadora do International Women’s Club de Feira de Santana; membro da Academia de Letras e Artes de Feira de Santana, onde exerceu a função de Vice-Presidente, membro da Academia de Cultura da Bahia e do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana.

Recbeu a Comenda Dival Pitombo, da Câmara Municipal, por seus serviços prestados à cultura feirense. Publicou os seguintes livros: Noite Clara (poemas); Um Solto no Outro (antologia), Avenida Senhor dos Passos, Um Lenço Perfumado (Poemas de Outono) e tem poemas publicados em vários jornais da cidade. 

Irma Rosa de Lima Caribé Amorim faleceu no dia 23 de novembro de 2010, deixando um vazio no coração dos familiares, amigos, alunos,  confrades e a cultura feirense órfã de uma das mais denodadas feirenses, guardiã das tradições da cidade.

Com informações de: Ísis Morais (Tribuna Feirense)

Evandro Oliveira (Colégio Santanópolis)

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