quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Expressões da língua portuguesa com certeza

          Creio que foi numa crônica do humorista Leon Eliachar que conheci a palavra “Pulcra”. Eu era adolescente, imaginem então quanto tempo tem isso. Dissertava ele sobre as idiossincrasias (tá vendo?) contidas na língua portuguesa. Quem nasce no Cairo é Cairoca? Qual o feminino de cupim? Perguntava ele, reclamando do nosso idioma por adoção. Sim, porque não é a “Língua Brasileira”. É “Portuguesa, com certeza”! E ele se irritava: “Imagina se eu disser a uma mulher que ela é “pulcra”? Se ela der um bofetão foi merecido. Onde já se viu, sair por aí chamado a mulher dos outros de “Pulcra”!

        Políticos quando querem impressionar a patuleia, costumam usar palavras há muito em desuso. “Preclaros compatrícios! Eis que me se lhes apresento, aspirante a alcaide desta vetusta urbe, como lenitivo, às vossas agruras das azáfamas diárias. Expondo-me no próximo pleito ao escrutínio das vossas preferências. Advirto, contudo, que depositem fé no que digo, e amanhã não lamentareis a sorte do seu cruciante fadário”. Pronto! Já ganhou! Falou pouco, falou bonito? Já ganhou o voto dessa gente que não gosta de pensar. Lá pelos anos 70, eu estava na casa de uma namorada, quando um ministro do governo militar ocupou horário na TV pra dar algum recado da ditadura. O pai da moça mandou a rapaziada calar a boca que ele queria ouvir. Alguém questionou: Mas, é um ministro da ditadura. O “velho” retrucou no ato: “Não importa! Ele fala muito bem”! Cá comigo eu pensei (mas não falei, que não era besta): Com as gatinhas funciona!

         Quem assistiu a alguns capítulos da novela Roque Santeiro, deve se lembrar dos discursos do Professor Astromar Junqueira, que ninguém entendia uma só palavra do que ele dizia, mas todo mundo aplaudia e balançava a cabeça em sinal de aprovação. É por aí. Mas, que ninguém pense que é só ajuntar um monte de palavreado e sair por aí fazendo discursos, porque o tiro pode sair pela culatra. Isso acontece quando alguém aprende uma palavra nova e, sem saber o significando, sai repetindo ela por aí.

Foi assim que o Coroné Zé Pedra ouviu no noticiário a palavra “Inadimplente” e ficou encantado por ela. E era um tal de inadimplente pra cá, inadimplente pra lá, usando a palavra em todas as situações. Até que o agiota lá da sua região, faleceu. Rei morto, rei posto! Uma semana depois já tinha agiota novo no trecho. O Coroné Zé Pedra foi lá se apresentar. Quando viu um sujeito novo, de seus 30 anos, quis impressionar e foi logo dizendo. “Eu tava acostumado com meu amigo véio, Zé das Virgens. Mas, se ele deixou o sinhô no lugá dele, pra mim tá bão. E o sinhô não se apoquente comigo não. Eu sou um véi inadimplente que só tem uma palavra”. Não foi daquela vez que o Coroné conseguiu dinheiro emprestado com Zé das Virgens.

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