domingo, 14 de março de 2021

Cientista ficou biruta, ou já era?

        Alto, aliás muito alto, para os padrões da época. A altura média do brasileiro era 1.74 m e os mais altos - a exemplo dos zagueiros Beline e Mauro -, da seleção brasileira, ficavam entre os invejados 1.82m e 1.84 m, Anfilófio  com 1.94 m de altura, magro e um pouco curvado, pela falta de barriga, chamava atenção, não apenas pela altura, mas pelo seu tipo: usava sempre camisas de mangas compridas com estampas, calças folgadas, gravatinha borboleta, sapatos de duas cores, cabelos vastos com um meio pimpão e óculos de armação vermelha.

Poderia ser um estrangeiro, um fugitivo da Segunda Guerra Mundial, um cientista biruta, um professor aloprado, um psicopata, ou tudo isso e muito mais! Até mesmo um híbrido, gerado por um alienígena ou com ajuda dele. Mas não era nada disso, baiano das bandas de Santo Amaro, nascera inteligente e mesmo com o estudo precário que obtivera, conseguia produzir sabão, velas, doces diversos, vinhos, licores, remédio para verme, antidoto para veneno de cobra, remédio para dor de cabeça, sangramentos, enxaquecas. Extraia dentes, consertava fraturas, tinha um tônico especial para evitar queda de cabelos, e antes mesmo da existência das cirurgias plásticas, ele já mexia com a face de mulheres vaidosas!

Nesse item vale lembrar dona Mariquinha  que com seus 89 anos, embora insistisse que eram apenas 49, submeteu-se a um tratamento facial com o “dr”  Anfilófio, e, por incrível que pareça, melhorou bastante! As pelancas, o fino bigode e as sobrancelhas caídas praticamente despareceram à base do óleo de coco, mastruz, parafina, leite de mamão, borra de café, pasta dental, e outros elementos dessa magica composição que ele “jamais revelaria”, o que é perfeitamente compreensível!

Respeitado como cientista, Anfilófio vivia fora da realidade brasileira onde o futebol, a política e o carnaval são as razões de viver. Bola, pelo que se sabe, nem mesmo de gude ele jogara, carnaval era “coisa de doido” e política, ele malmente sabia que Getúlio Vargas era o presidente da República! Mas foi ai que dona Mariquinha, agora com seus 36 anos de idade (segundo ela), cismou de torná-lo candidato a prefeito. “Um homem nobre, democrata, cientista, orgulho dos seus concidadãos”.

E com isso o que deu em Anfilófio ninguém sabe! Abdicou de concorrer ao Executivo, trancou-se em sua casa (laboratório) e passou a produzir um foguete para ir à Lua! Dias, meses, quase  dois anos trancado, até que reapareceu em público. Iria à Lua, mas ao que parecia já estava nela! Cabelos enormes, calças ainda mais folgadas, pois emagrecera bastante, uma enorme gravata tricolor, em lugar do sapato de duas cores um par de chuteiras, um belo chapéu mexicano e para completar a louca indumentária, uma chupeta na boca, em uma mão, um makulele (instrumento de cordas) e na outra uma mulatona! Não era época de carnaval ou de micareta, mas logo ele tinha um grupo de adeptos a acompanhá-lo cantando: “mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar...”. Conclusão emitida pelo filosofo Fialho: “Ele não estava vivendo, estava  fora da realidade. Sem futebol, sem carnaval e sem mulata isso não é vida. Agora sim, ele é um verdadeiro brasileiro, um homem normalíssimo! Segura ai que eu também vou nessa “mamãe eu quero...”.

 

 

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