segunda-feira, 15 de março de 2021

Crônica de segunda

 Navegar é preciso. Viver não é preciso.

   A frase acima, de autoria controversa, mas imortalizada pelo poeta português Fernando Pessoa, nos leva a várias interpretações. A mais simples delas é a de que navegar é mais importante do que viver. Talvez o fosse para os antigos navegantes, os quais tinham na navegação mais que um meio de vida, a aventura de desbravar os oceanos enfrentando perigos desconhecidos e inimagináveis.

         Há, porém, uma interpretação mais profunda e que nos remete a reflexões sobre a nossa existência. “A Navegação é uma ciência exata, em comparação com a Vida, que sabemos onde começa e jamais onde termina”. Significa dizer a navegação é precisa, exata. Sabemos de onde partimos e temos conhecimentos e instrumentos que nos levarão exatamente onde queremos chegar, salvo algum acidente, é claro.

         Já viver não é algo preciso, exato. A vida nos oferece inúmeros caminhos e oportunidades. E Deus nos deu livre arbítrio para fazermos nossas escolhas. Podemos escolher ser bondosos ou perversos; alegres ou tristes; organizados ou desleixados; preguiçosos ou ativos; serenos ou temperamentais; casar ou permanecer solteiros; escolhemos até a profissão que vamos ter, o nosso trabalho, o nosso estilo de vida, nosso vestuário, nossos alimentos, nossos esportes, tudo enfim. E estas escolhas vão mudando o nosso rumo na vida e nunca temos certeza de quando nem como a jornada irá terminar.

NE: Publicada no livro Soltando as Amarras (2015)

 

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