domingo, 7 de março de 2021

Pense nisso

        Há os que se dizem cansado de usar máscaras, de não ir a bares, baladas, de não fazer festas, de lavar as mãos, de manter distanciamento.
        Você já se perguntou se os médicos - e todos da equipe de saúde - estão cansados de usar equipamentos sufocantes, do ambiente soturno, pesado, denso, sofrido, das unidades de internamento, do desgaste de cada intubação, e do peso de cada decisão minuto a minuto sobre um paciente grave; de cada pronação, cada diálise; da sensação de impotência diante de um doente que só agrava, apesar de tudo que se faz?
        Já se perguntou sobre a dor existente em cada boletim diário? Da emoção que aflora em cada vídeo-chamada para os familiares - tantas vezes, a última - e o silêncio cortante dessa hora? Da tensão existente em cada sequência de paramentação( vestir as roupas) e desparamentação, onde uma mínima falha pode representar uma auto-contaminação de grande carga viral, e quem sabe custar a própria vida ou de familiares? De trabalhar de fralda, ou beber um café de canudinho - quando possível - em longos, exaustivos, repetitivos, plantões?
        Equipes de saúde não têm o direito de desistir. E quando pensamos que as coisas iam ficar mais leves vem uma segunda onda, mais dura, que coloca mais drama nas escolhas - entre quem tem ou não a vaga, em quem morre e quem tem uma chance- , mais tensão por ser uma cepa mais contagiosa, porque não fizemos o isolamento necessário, e optamos por campanhas políticas, celebrações de fim de ano, baladas, e nos recusamos a usar equipamento de proteção mínima como um pano sobre a boca e o nariz.
        O que diremos aos 500 médicos já mortos nessa pandemia? Que não valeu a pena, e que os demais deveriam ir para casa e quem sabe, assim, a compreensão se tornaria universal? Quem zelará pela saúde mental dos médicos dilacerados pela tensão e pelas mortes numa proporção que nunca viram, pois, nem sequer tiveram a oportunidade de serem treinados na sua formação para tamanha carga e peso?
        Entendam que é muito mais que ter leito, respirador, drogas, é respeitar gente que está cuidando de gente, arcando com um custo emocional, memorial, físico, impagável.
        
Não podemos parar, nem iremos parar, e quando a sobrecarga vier, apesar de exaustos, fincaremos os pés em alguma razão imaginária, e continuaremos, continuaremos, continuaremos, porque temos de continuar, continuar, continuar...
Mas, pense nisso...

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