sábado, 11 de junho de 2022

 


* Juraci Dórea *

Pedindo licença aos orixás, atrever-me-ei falar do arquiteto, para mim, o mais perfeito tradutor da estética sertaneja. Não irei tratar de seus livros, suas instalações e achados visuais ligados ao couro; também nada direi de suas pesquisas do linguajar nordestino nem suas palestras, andanças e presenças em mostras de pinturas, daqui e de além-mar. 

Adoro postar-me, placidamente, frente a seus quadros. Obras de um homem nascido na Feira de Santana, artista plástico inspirado, gente do interior da melhor cepa, que se converteu, por força de seu polivalente e artístico trabalho, em referência da cultura popular regional, especialmente da literatura de cordel. 

A produção de Juraci, não é para ser apreciada por qualquer um. 

É preciso ter vivência nordestina, mesmo breve.

Conhecer cajuí, macambira, juazeiro. 

É preciso ter pisado em solo massapé, mesmo pouco.

Conhecer caroá, favela, umbuzeiro.

                 É preciso ter lido livros de cordel, mesmo um.

Conhecer xique-xique, mandacaru e jurema.

 Coisas poucas, mas reveladoras de preparos e pendores para compartilhar a obra com o artista, alcançar o seu recado. É preciso ter a Alma Sertaneja da qual falei em outra crônica.

                É preciso bandeirolas,

lua e estrelas,

corações entrelaçados,

mãos em preces para o alto,

candeeiros,

coração de mãe,

peixes fossilizados

caras de cangaceiros,

cobras e cabras da peste,

livrinhos de cordel,

cabeças de gado,

zig-zagueiem misturados,

como na velha feira da Feira de Santana,

a compor o pano de fundo para o casal, em cores, a se abraçar ou para o violeiro, em preto e branco, a dedilhar o pinho.

 As obras de meu amigo Juraci Dórea são assim. Retrato fiel do que há de mais puro das coisas do sertão.

 Ao apreciá-las, na companhia de meu charuto, ali permaneço, por tempo infindo, a descobrir renovados encantos e vendo a vida fazer sentido.

Hugo A de Bittencourt Carvalho

[email protected]

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