* Juraci
Dórea *
Pedindo licença aos orixás, atrever-me-ei falar do arquiteto, para mim, o mais perfeito tradutor da estética sertaneja. Não irei tratar de seus livros, suas instalações e achados visuais ligados ao couro; também nada direi de suas pesquisas do linguajar nordestino nem suas palestras, andanças e presenças em mostras de pinturas, daqui e de além-mar.
Adoro postar-me, placidamente, frente a seus quadros. Obras de um homem nascido na Feira de Santana, artista plástico inspirado, gente do interior da melhor cepa, que se converteu, por força de seu polivalente e artístico trabalho, em referência da cultura popular regional, especialmente da literatura de cordel.
A produção de Juraci, não é para ser apreciada por qualquer um.
É preciso ter vivência
nordestina, mesmo breve.
Conhecer cajuí, macambira, juazeiro.
É preciso ter pisado
em solo massapé, mesmo pouco.
Conhecer caroá,
favela, umbuzeiro.
Conhecer xique-xique,
mandacaru e jurema.
lua e estrelas,
corações entrelaçados,
mãos em preces para o
alto,
candeeiros,
coração de mãe,
peixes fossilizados
caras de cangaceiros,
cobras e cabras da
peste,
livrinhos de cordel,
cabeças de gado,
zig-zagueiem
misturados,
como na velha feira da
Feira de Santana,
a compor o pano de fundo para o casal, em cores, a se abraçar ou para o violeiro, em preto e branco, a dedilhar o pinho.
Hugo A de Bittencourt Carvalho
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