segunda-feira, 20 de junho de 2022

Crônica de segunda

 

Problemáticas e solucionáticas

          “Não me venha com a problemática, que eu tenho a solucionática”. A frase é atribuída ao jogador de futebol Dario, o folclórico Dadá Maravilha, ou Dadá Peito de Aço, Dadá Beija-flor, ou quantos nomes mais ele tenha. O que ele queria dizer é que ele resolvia qualquer problema, inclusive gramaticais, criando o neologismo “solucionática” para se expressar.

         Resolver problemas é um sério desafio para qualquer pessoa dotada de capacidade mental, senso crítico, critérios e ética. Mas, para a grande maioria, tudo parece muito fácil. Não por acaso todo brasileiro é um técnico de futebol. Pode perguntar a qualquer cidadão no meio da rua como escalar a seleção brasileira de futebol que ele tem a escalação e a tática na ponta da língua.

         Às vezes, a solução de um problema por quem não tem capacidade para fazê-lo resulta em tragédia. Foi um caso de um cidadão que chamou um amigo seu, eletricista, para resolver um problema de falta de energia elétrica na rua em que morava. Chegando lá, o profissional constatou que houve o desligamento da rede, pois uma “canela” havia caído, provavelmente por conta de alguma sobrecarga ou circuito na rede.

         - Isso aí só o pessoal autorizado pode resolver. Não posso fazer nada” – disse o profissional.

         Não satisfeito, o sujeito foi em casa, apanhou uma escada um alicate, e foi ele mesmo repor a “canela” no lugar. O choque elétrico de 11 mil volts o matou instantaneamente.

         Quando não resulta em tragédias, a solução de problemas de forma intempestiva pode resultar em situações, no mínimo, hilárias. Um amigo meu trabalhava no setor administrativo de um hospital psiquiátrico, onde a população de gatos havia aumentado consideravelmente, causando transtornos diversos.

         Além da algazarra noturna, incomodando os pacientes, os bichanos começaram a invadir a cozinha e roubar comida nas prateleiras e panelas. Pragmático, esse meu amigo decidiu resolver o problema. Conseguiu com o colega que trabalhava na farmácia do hospital uma boa quantidade de Diazepan, remédio usado para acalmar malucos.

         Esperando acalmar os gatos, ele misturou o medicamento na comida da gataria. O resultado não poderia ser mais desastroso. O remédio fez efeito contrário e os bichanos se tornaram agressivos, inclusive mordendo e arranhando funcionários e pacientes.

         Contam que certa vez, na Austrália, a população de coelhos aumentou demasiadamente. Decididas a resolver o problema, as autoridades locais mandaram construir uma cerca que isolaria os coelhos em determinada área do país. Quando a cerca ficou pronta, tinha coelho dos dois lados.

         Por falar em pragmatismo, já viram categoria mais pragmática que a militar. Eles resolvem qualquer problema. Aquela unha encravada tá difícil de sarar? Amputa o dedo do soldado. Tá tendo infestação de carrapato no curral? Mata o gado. A pintura do carro está fosca? Passa lã de aço pra dar brilho. O papagaio não fala? Bota ele no pau-de-arara. E por aí vai.

         Aí eu lembro daquele caso clássico da patroa que reclamava da empregada porque ela deixara uma boca do fogão acesa. Pragmática, ela respondeu de pronto: A senhora não disse que era pra economizar fósco”?

NE: Publicada no livro Mas, eu lhe disse... 2015

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