quarta-feira, 15 de junho de 2022

Os Mandingueiros

        

Em todos os lugares há sempre estórias sobre pessoas ou animais com poderes sobrenaturais, capazes de iludir e escapar dos seus perseguidores. São os “Mandingueiros”. Em Feira de Santana havia um sujeito muito forte, capaz de retirar o motor de um caminhão sem uso de guincho, usando só suas mãos e braços. Mas ele ia além. Dizem que se fosse perseguido por alguém e na fuga dobrasse uma esquina, seus perseguidores, ao dobrar a esquina, não encontravam ninguém. Ele simplesmente sumia. Era conhecido como Pedro Grosso.

         Quem assistiu ao filme “O homem que desafiou o diabo” deve se lembrar de um boi fujão que nenhum vaqueiro conseguia encontrar dentro das caatingas. Era um famoso “Boi Mandingueiro”, que simplesmente sumia diante dos seus perseguidores. Coube ao herói do filme, Ojuara, pegar o bicho. Mas o próprio Ojuara tinha fama de ser mandingueiro. Um amigo me contou que na cidade de Pé de Serra, na região sisaleira, havia um baixinho tinhoso, conhecido como Juventino Catoré, que era mandingueiro. Como ele bebia e fazia arruaças, geralmente acabava preso. Mas quando os policiais voltavam para a rua, ele já estava lá. Como? Ninguém sabe.

         Essas estórias sertanejas foram exploradas pelos autores de telenovela à exaustão, nas décadas de 70 e 80. Lembro-me da Mulher de Branco, que vagava à noite pelas ruas da cidade, mas quando alguém se aproximava ela desaparecia. O “Cadeirudo” que atacava homens e roubava suas calças. Do homem que criou asas. E não poderia faltar lobisomens, um dos quais era apaixonado por uma garota do bordel e, pasmem, era correspondido. São muitas lendas urbanas a povoar a mente do povo. Em Feira de Santana me lembro do Carro de Boi fantasma, o Bicho do Tomba, o Vampiro e a Loura Sinistra. Muitas pessoas juram ter avistado esses personagens, mas ninguém nunca os tocou ou prendeu.

         O ex-presidente do Fluminense de Feira, Luiz Almeida, conta em seu livro de memórias, que quando dirigia o clube, a equipe, que vinha bem no campeonato baiano, começou a cair de produção e ele foi cobrar mais empenho dos jogadores. Depois da preleção, alguns jogadores reclamaram que ele não aceitava “fazer trabalhos” para ajudar o time. Fazer trabalhos significava contratar um Pai de Santo para “abrir os caminhos” para os jogadores. Ele já ia retrucar, quando o próprio técnico endossou as queixas dos atletas. Pensando então que isso seria um elemento motivador, contratou o tal pai de Santo e o time recomeçou a jogar bem.

O radialista Dilson Barbosa conta que certa vez apareceu um sujeito no fluminense, um tal de Paulo, que fez amizade com os atletas através de rezas e mandingas que fazia a pedido dos mesmos. Nessa época o clube começou a passar por uma boa fase, e todos no clube atribuíam o fato aos “Trabalhos de Paulo. O tempo passou e um novo presidente foi eleito. Logo no primeiro dia do seu mandato, ao chegar à sede do clube, deu de cara com Paulo sentado na sua poltrona. Quando Paulo disse qual era a sua “função no clube”, ele imediatamente dispensou Paulo, mesmo sob protestos de alguns. Paulo Saiu, mas deixou uma profecia: O Fluminense não venceria mais torneio algum. E o Fluminense não ganhou mais nada mesmo e hoje amarga a Segunda Divisão do Campeonato Baiano. Reza a lenda que Paulo enterrou uma caveira de burro em local incerto no estádio Jóia da Princesa. Paulo já é falecido, e reza a lenda, também, que só ele poderia desfazer a mandinga.

Um comentário:

Emanoel Freitas!!! disse...

Excelente seu blog!
Vamos Marcar uma entrevista no Viva Feira, para breve!