segunda-feira, 6 de junho de 2022

Crônica de segunda

 Jumento reprodutor

    Talvez vocês conheçam a história do bode reprodutor. Mas eu vou contar assim mesmo, que é pra poder contar uma outra parecida, só que com um jumento. Contam os antigos, que na Cidade Princesa, lá pelo início do século XX, um fazendeiro tinha um bode que era um campeão reprodutor. O bicho não falhava uma. A sua fama de bom reprodutor era tão grande, que fazia fila na porta do dono. Vinha gente até de outros estados, trazendo suas cabritas para o bode dar uma “bimbadinha”. E o dono, é claro, cobrava por cada cobertura, e não era barato.

    Assim sendo, o pobre, como sempre, não tinha vez. Não podia pagar para melhorar seu rebanho. Foi aí que apareceu um candidato a prefeito, prometendo que se eleito fosse, compraria o bode para atender aos pequenos criadores, “Dê Graça”. Prometeu e, por incrível que pareça, cumpriu. Uma vez eleito, comprou o bode a peso de ouro e levou para os currais municipais, onde o bicho iria atender às cabritas dos pequenos criadores.

    Alguns dias depois, o prefeito foi lá, ver com estava indo a coisa. Logo na chegada, notou alguma coisa estranha. Não tinha ninguém no curral do bode, e o bicho tava deitado na sombra de uma quixabeira, à beira de um laguinho, rodeado de capim verde. O alcaide procurou o chefe dos currais e perguntou: “Que é que houve, porque o bode não está ‘trabalhando’? O povo não está trazendo as cabritas? Não acreditam que é de graça? O que está havendo”?

    O chefe coçou a barba e disse: “Olha, seu prefeito, trazer cabritas até que o povo trouxe, muitas. Mas esse bode, depois que descobriu que é funcionário público, não quer fazer mais nada”.

    Não é o caso de seu Gerson Borges, fazendeiro lá das bandas do Paraguassu, que recebeu como pagamento de uma dívida, 30 excelentes éguas de raça. Logo, raciocinou: “Se eu conseguir um bom jumento, cruzador de égua, vou ter um bom lucro vendendo as crias”. E saiu à cata de um bom jumento, cruzador de éguas. Procurou até que encontrou um jumento Pêga, alto, sadio, jovem. Uma beleza de animal. O dono, claro, garantiu que o jumento cruzava éguas. Não tinha como, um bicho daquela altura, daquele porte, não cruzar uma égua.

    Seu Gerson comprou e levou o bicho pra fazenda. Soltou no meio das éguas e... nada. Passou um dia, dois, uma semana e...nada. Ele aí resolveu soltar o bicho no pasto, no meio dos outros jumentos, para ver se ele se ambientava. Podia estar estressado, com a mudança de ambiente. Mas foi pior a emenda, pois os outros jumentos passaram a rufiar o vistoso Pega, que por sinal, a-do-rou.

Era bicha!

NE: Publicada no livro A Levada da Égua ... e outras estórias - 2004

Nenhum comentário: