domingo, 26 de junho de 2022

O Fogo de Prometeu

Sem o fogo não haveria o homem de hoje. Um dos cinco elementos vitais – os outros são a terra, a água, o ar, e o tarja preta- ele foi fundamental ao desenvolvimento da humanidade. Dizem ter sido descoberto no Paleolítico Médio, quando ainda não havia cadeias de fast-food, a alimentação era difícil e as noites perigosas. Corria um frio que faria os ambientalistas decretarem o fim da espécie pelo esfriamento global e ONGs de Homo Erectus vagavam pelas savanas pregando o fim da caça aos javalis e demarcação das terras exploráveis.

Claro que incêndios deviam acontecer, causados por raios, mas não havia domínio de sua produção até que um Homo Jobs da vida friccionou duas madeiras, ou pedras, e produziu uma faísca. Por não ter patenteado a descoberta ela rapidamente disseminou-se pelas redes sociais da época. Esta descoberta permitiu ao homem iluminar as noites sem luas, proteger-se dos predadores, aquecer-se, e sobretudo, fazer um churrasquinho na laje das cavernas, aumentando o consumo de proteína animal, que foi fundamental para nosso crescimento cerebral e evolução da espécie até chegar na Paolla Oliveira.
Esta teoria tem sido contestada diante do comportamento de certos humanos e músicos que vagam por aí claramente em fase Pré- Paleolítica. O certo é que desde então o fogo tornou-se essencial: da celebração de rituais e produção do aço, ao canibalismo das fogosas periguetes. O fogo está incorporado simbolicamente, ao nosso imaginário, às divindades, em todos as religiões. Aliás, não foi à toa que Prometeu o roubou dos Deuses para entregá-lo aos homens. Como castigo foi preso a um rochedo com o fígado sendo devorado todos os dias só para lembrar que quem brinca com fogo faz xixi na cama. Esta foi só mais uma tragédia na qual a ONU não fez nada, como em muitas outras.
A fogueira nos remete a uma reminiscência tribal, pagã, ritualística. Confesso que tenho devoção por elas e por isso sinto prazer ao ver uma fogueira diante de cada caverna, ops, casa, no período junino. Menino, volto a minha roça. Meu pai fazia uma fogueira que queimava de São João a São Pedro, com troncos secos de Jaqueira ou Cajueiro, puxados até a porta no Carro de Boi. Com o tempo ele passou a me dar o querosene e fósforos - minha vantagem em relação ao Homo Erectus- e, eu, me sentindo importante, a acendia. Fazíamos compadres e comadres arrodeando a fogueira e eu aprendia como é que o fogo arde nos corações.
Todos os anos, ou até quando aceitaram sem ameaças de rebelião ou morte, levei meus dois filhos para a roça e fizemos do correr das cobrinhas, do colorido das chuvas de prata, e de olhar no céu a magia dos desenhos coloridos dos foguetes, o elo invisível de meu pai com meus filhos, ao redor do fogo, naquilo que chamamos família.
E, esta crônica, é só para pedir a vocês, filhos, se me lerem, que não deixem de cortar a lenha, de apanharem os fósforos, ou sei lá, um maçarico cibernético, para acenderem a velha fogueira e me deixarem ficar com os filhos que serão seus, ali, todos juntos, iluminando o caminho da última escuridão com o Fogo de Prometeu.

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