quinta-feira, 30 de junho de 2022

*Philosopher*


“Não existe pecado ao Sul do Equador”

A principal frase da música “Não Existe Pecado do lado de baixo do Equador” não foi escrita pelos autores da música. Ela é pelo menos três séculos mais antiga do que a composição de Chico Buarque e Ruy Guerra. Mais: sua versão original era dita em latim! Ultra aequinoxialem non peccari.

Chico encontrou o antigo ditado europeu no livro do seu pai, o historiador Sérgio Buarque, “Raízes do Brasil”. Sérgio observa, na obra, que a máxima corria pela Europa e foi registrada pelo cronista Barlaeus em 1641. O holandês explicava: “É como se a linha que divide o mundo em dois hemisférios também separasse a virtude do vício”. Ocupado por desbravadores com espírito de aventura, este trópico era visto no Velho Mundo como verdadeiro antro de perdição. Já para os estrangeiros exploradores, estas terras sem instituições sociais nem religiosas eram o paraíso da utopia e liberdade, onde nada era proibido. No século 17 a ideia que se fazia do Brasil, para o bem ou para o mal, era de um lugar livre da “moral" e “bons costumes”, conforme observa a historiadora Natália Pesciotta.


Mas, quem inventou o pecado?

            Eu costumo dizer que ele não existe. Pelo menos não nos formatos em que os religiosos usam para intimidar e ameaçar os crentes. Pecado, do meu ponto de vista, é toda ação ou pensamento praticado por alguém, que fica atormentando a sua consciência. Quando comete um erro, um ser humano consciencioso fica atormentado, sempre fustigado por um sentimento de culpa que nem sequer lhe deixa dormir em paz. E em sendo uma pessoa de bem, não descansará enquanto não reparar o seu erro, ou pelo menos, confessá-lo, senão a própria vítima do seu erro, a alguém com quem possa compartilhar e assim dividir parte da sua carga emocional. Porém, existem pessoas que sentem prazer em causar sofrimento aos seus semelhantes. Para punir esses perversos existem as leis: As dos homens e as de Deus. Cabe a cada um escolher qual a melhor. De certo é que sem punição ninguém fica. Para perceber isso basta ser observador e paciente. Cedo ou tarde o malfeitor pagará pelo que fez.

            Mas os tais “pecados” inventados pelas religiões, na maioria das vezes só servem para azucrinar a vida dos fiéis e assim ter justificativa para lhes dominar e tomar o seu suado dinheiro ganho com muito trabalho. E digo mais: muitos dos crimes sexuais não existiriam se deixássemos as pessoas, principalmente os jovens, seguirem seus instintos, preparando-os e alertando sobre os riscos do sexo muito precoce, fora do tempo da natureza, por assim dizer, desregrado, evitando doenças e gravidez indesejada. Não há nada de pecaminoso em jovens descobrindo sua sexualidade, seguindo seus instintos de forma sadia e feliz. Pecado há, isso sim, em forçar-se jovens sadios a viver em celibato para justificar interesses escusos dos seus líderes.

            Sigamos, pois, os nossos corações e vivamos felizes. Tudo o mais deixemos nas mãos poderosas e generosas de Deus, que ele sim, sabe o que podemos e o que merecemos das suas bênçãos.

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