sexta-feira, 14 de agosto de 2020

A normalização da pandemia

Todo fenômeno, ou  tragédia duradoura,  conduz o humano a uma adaptação à  situação,  para que a normalidade da alma humana sobreviva. A imperiosa e irresistível necessidade da vida normal nos conduz a isso por caminhos diversos, sendo que dois desses mecanismos são  a " normalização" do fato e a indiferença.
Estamos vendo isso com a Covid-19. A longa, persistente, repetição dos números de casos e mortos vai retirando das pessoas, o choque, o espanto, o medo, fazendo com que elas passem a tornar aquilo um ambiente em que a vida normal segue adiante, apesar de sua existência. Como o sol para os que habitam o deserto, ou o gelo, para os que habitam os polos. É a " normalização" do anormal.
Por outro lado, se os número iniciais nos espantavam e nos levavam a vigiar diariamente seu crescimento, a partir de determinado ponto, determinada grandeza, ele perde seu poder de impacto. Os 100 mil mortos, uma marca simbólica, ao ser ultrapassada produziu esse efeito. Já há muita gente que não vigia mais os números, que está ficando indiferente a seu crescimento. Não é mais a Covid-19, suas mortes sem luto, sua rotineira repetição, que domina a sociedade, nesse momento, mas as estratégias de retomada da vida normal, como se normal ela fosse. Isso traz o risco de redução do cuidado, queda da vigilância , cobrança aos governos.
É preciso flexibilizar, mas não normalizarmos o avesso para que mantenhamos  os cuidados, pois, como diz Guimarães Rosa, a vida é perigosa é na travessia.

Bolsonaro pavimenta reeleição

Pesquisa Datafolha  mostra que Bolsonaro chegou a 37% de ótimo e bom, com crescimento de 5%,  e teve queda na rejeição de 44% para 34%. Há algumas razões para isso:
1- R$254 milhões distribuídos a 64 milhões de pessoas, como fator principal, devorando, inclusive, parte do eleitorado Lulista. Não é a toa que entre os que estão sem ocupação a reprovação caiu 9% e o apoio subiu 12%
2-a prisão de Queiroz- o assessor do Senador " Rachadinha"-, Flávio Bolsonaro, que calou o presidente e reduziu os arroubos extremistas, e as agressões verbais cotidianas,  e o inquérito do STF que botou cabresto no "gabinete do ódio" e fez  Bolsonaro dar um cavalo de pau em suas posições,  aproximando-se do Congresso abraçando o Centrão, sacrificando Moro e a  pauta anti-corrupção, distanciando-se cada vez mais da pauta liberal da campanha. A redução da verborragia do confronto parou de incomodar aquela parte do eleitorado que o apoiou na campanha, mas que não gostava dos excessos que ele cometia. 
3- a " normalização da pandemia" que já está incorporada pela sociedade a sua rotina e que não enxerga mais como responsabilidade do presidente o enfrentamento a doença. 
4- a esquerda, dilacerada pela corrupção ilimitada, não consegue apresentar um discurso que ganhe a confiança da sociedade ou reduza a rejieção entre os não militantes.
O pragmatismo de Bolsonaro- não sem razão aconselhado  por Temer-, mira a reeleição, e o aditivo financeiro do coronavoucher incendeia o eleitorado desamparado, sustenta a economia, e se torna um cabo eleitoral dificil de ser batido
A grande dúvida é se esse comportamento do presidente e a economia terão sustentação até a eleição. 

 


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