
Os nomes acima, e a localização, mostram que a doença não respeita
geografia, sexo, especialidades, aparência de boa saúde, ou
fragilidades, para exercer sua evolução dura, e imprevisível. De mínima
letalidade, dirão os especialistas, e os desprovidos de empatia; de
perda, dor lancinante, e luto incompleto, dirão os que perderam os
tocados por ela.
As idades mostram que a doença tem uma agressividade única com os que a
desafiam, e que expostos a uma maior carga viral dançamos com o perigo
ao exercermos a medicina, porque nunca sabemos quando as fiandeiras do
tempo decidem cortar o fio da vida e ética e humanamente não podemos
negar socorro. São esses os nomes, escolhidos ao acaso, nos últimos
dias, mas poderiam ser quase cento e cinquenta, outros, a maioria de
jovens, em uma tragédia irreparável.
Salvo em guerra, nunca vimos tantos profissionais de uma área,
morrerem em período tão curto, a maioria em direta e heroica atividade
de enfrentamento à pandemia, e a esse “anunciador de caos”, invisível e
concreto, capaz de mudar o urbano, a geopolítica, a economia, a
proximidade do humano, os costumes, os abraços e o luto, como um feitor
do universo.
É preciso que as pessoas se conscientizem da brutal tensão e risco que
vivem todos que estão dentro de um ambiente hospitalar, fazendo
renúncias, escolhendo a solidão do afastamento familiar, cultivando o
temor das despedidas, presenciando diariamente a frustração da perda, a
impotência da cura, girando a roleta-russa da contaminação. E os que
sobrevivem, não saem ilesos e sem cicatrizes na memória do estresse
continuado.
Não podemos ser uma sociedade egoísta, que não reflete sobre a
conseqüência da renúncia à ciência, e o desrespeito as recomendações de
saúde, por vaidade ou um hedonismo desnecessário, lesivo, e vazio.
Nossos atos têm custos a terceiros, e a vida do profissional de saúde
não é um bem reciclável, ou descartável, pois, quando se perde alguém a
saudade se torna um asilo, e a lembrança até é um fiapo de consolo, mas a
tristeza é um vazio incompleto e sem escuta. Como sabe o silêncio de
Benícios, Moniques, e Palomas.
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