segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Setembro não é longe demais


Eu sei e vocês sentem na alma das estações que é Setembro. Há flores, no entanto, que desobedecem o calendário, florescem em Abril e lançam seu perfume por uma vida inteira.
As folhas do outono que forravam o chão, cederam ao frio, do inverno, e foram varridas. E nas manhãs de minha cidade e de meu coração a neblina não cobrirá mais o sono dos que se tardaram amando. Há, pressentimos todos, depois do longo outono, urgências de flores. Há extrema urgência de flores.
Precisamos semeá-las em cada despedida para lembrarmos que não é partir que separa, mas não deixar cativos os territórios da volta. Precisamos de flores, pois, Setembro, sempre foi longe demais.
Precisamos das leiras dos olhos para semearmos os lírios, jasmins, girassóis amarelos, açucenas e delicadas acácias, que guardamos em nossas melhores esperanças. E rosas. As rosas vermelhas, as rosas nuas, as rosas dos que amam sem pudor, vencendo os mitos.
Precisamos das mãos de jardineira, férteis, replantando os frutos das amendoeiras, pois novas chuvas virão. E, então, as ruas de minha história, o melhor minuto do tempo, as realizações, e a Getúlio Vargas, de minha cidade, irão florir seus flamboyants , a vida não mais perecerá, mimetizando o fogo do sol, e uma lágrima de prazer escorrerá nos olhos de uma mulher.
Agora, que em algum lugar do mundo as amadas dormem, exaustas, escrevo com o alfabeto dos principiantes, minha primeira carta de anúncio para avisar que Setembro não é longe demais e que, mais do que em qualquer tempo, é preciso que se instale, com urgência máxima a primavera nos corações , para colhermos, pétala por pétala, as últimas flores de amor.

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