domingo, 6 de dezembro de 2020

Histórias da Princesa

        


Neste domingo, em Histórias da Princesa, publicamos a segunda matéria da série sobre a Santa Casa de misericórdia de Feira de Santana. A primeira, que publicamos há duas semanas, contando a história da fundação da Santa Casa e os primórdios do Hospital Dom Pedro de Alcântara que por ela é mantido. Hoje falamos da trajetória do próprio hospital, que esteve prestes a fechar as portas, bem como a recuperação e manutenção do Cemitério Piedade. Na próxima semana publicaremos a terceira e última da Série, que fala da fundação da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia,que trata pessoas com câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com moderna tecnologia, e do Instituto de Cardiologia que tem um moderno Centro Cirúrgico onde realiza cirurgias cardíacas também pelo SUS, e está se qualificando para fazer transplantes de coração. Lembrando também que já realiza transplante de rins há algum tempo.

A saga do Hospital Dom Pedro de Alcântara

         


Por muitos anos, no século passado, o Hospital D. Pedro de Alcântara, funcionou satisfatoriamente, prestando serviços à população de Feira de Santana e região, com Maternidade, Clínica Médica, Ambulatório, Emergência, cirurgias e diversos tratamentos e procedimentos médicos. Mas, por muitos anos também, ficou nas mãos de políticos que usavam as vagas disponíveis como “moeda de troca” com os seus eleitores. Muitas vezes, pacientes eram recusados sob a desculpa de não haver vagas, quando na verdade leitos estavam sendo reservados para atender aos pedidos de alguns políticos para atendimentos de pacientes por eles indicados. A cidade cresceu, a demanda aumentou demasiadamente e, além disso, o hospital passou a ser referência para pacientes de muitos municípios da região. Inclusive, havia a criminosa prática da “ambulanciaterapia”.

         É que os governos Federal e Municipal, através do Ministério da Saúde, direcionava para os estados e estes, por sua vez, as redistribuíam entre os municípios. E quase sempre por critérios políticos, e não pela demanda. Além disso, havia prefeitos que desviavam os recursos, e não aplicavam nas obras e ações necessárias para os pacientes dos seus municípios. Compravam uma ou duas ambulâncias, e quando alguém adoecia, era levado para Feira de Santana, e o HDPA recebia a maioria desses pacientes. Por ser uma Instituição Filantrópica, a Santa Casa de Misericórdia, mantenedora do ospital, contava com os poucos recursos vindos do governo ou de emendas de deputados, além de doações, não tinha renda suficiente. E deveria ter. Porque ao longo dos anos havia acumulado um grande patrimônio em imóveis, mas que foi dilapidado por más administrações.

O resultado disso é que no final do século XX e início do século XXI a entidade entrou em processo de falência e o HDPA, com 10 meses de salários atrasados e sem crédito na praça para comprar insumos e medicamentos, estava prestes a fechar as portas. Foi então que a Justiça, numa ação salvadora, nomeou o ex-provedor, José Ronaldo de Carvalho, para gerir a Santa Casa, acabando com disputas políticas internas. Essa ação acalmou os ânimos, alguns problemas imediatos foram resolvidos, e José Ronaldo solicitou da Justiça que o retirasse do cargo e colocasse em seu lugar o médico Outran Borges. A partir dali uma série de ações audaciosas e criativas, iria mudar a história da Santa Casa e do HDOA,

Pagando as dívidas


        Quando assumiu a direção da Santa Casa de Misericórdia em 2005, o grupo diretor, liderado pelo Provedor, Dr. Outran Borges, encontrou uma dívida de cerca de R$ 8 milhões junto a fornecedores e funcionários, sendo que esses últimos estavam com quase 10 meses de salários atrasados. Com criatividade e habilidade, essa dívida foi negociada e paga, em parcelas, com o dinheiro do arrendamento do terreno conhecido como Campo do São Paulo e, também, com o início do atendimento de alta complexidade no Hospital Dom Pedro de Alcântara. O Ministério da Saúde havia determinado um prazo para que as clínicas de Oncologia da cidade encerrassem o tratamento de pacientes com câncer em suas dependências, e os transferissem para hospitais que, por sua vez, teriam que dispor de construções adequadas para Oncologia. Dr. Outran Borges então propôs um acordo com as clínicas, cedendo-lhes o terreno localizado nos fundos do HDPA, conhecido como “Campo do Fumo”, para a construção das instalações necessárias, sendo que o HDPA receberia uma percentagem sobre os valores dos tratamentos ali realizados. Ao final de 20 anos, as instalações passariam a pertencer ao HDPA, mas o contrato poderia ser  renovado. Estava criada Unacon.

Assim sendo, os salários dos funcionários foram postos em dia, a Santa Casa ficou adimplente junto aos fornecedores e consegue, ainda que com dificuldade, pagar as suas contas. O Dr. Outran Borges permaneceu 8 anos como provedor da Santa Casa, mas não se afastou da mesa diretiva, ficando ainda muito tempo servindo àquela entidade onde ele começou a trabalhar antes mesmo de se formar médico.

Mais problemas

Enganava-se, porém, quem achava que tudo estava um mar de rosas. Uma outra batalha estava sendo enfrentada pelo novo provedor, Paulo Cesar Barreto, que era o pagamento da dívida da instituição junto ao governo Federal (Previdência) que beirava os R$ 6 milhões. Para tanto, a Santa Casa aderiu ao ProSus, para o refinanciamento das dívidas tributárias. A dívida foi então parcelada em 15 anos. À medida em que a entidade fosse pagando as obrigações correntes, iria abatendo o mesmo valor da dívida anterior. Ou seja, os tributos eram retidos na fonte, quando do repasse do SUS pelos serviços prestados pela unidade e a dívida amortizada.

Isso, porém, não resolvia o problema financeiro da Santa Casa. Em função da defasagem da tabela do SUS, o que era repassado não cobria 60% das despesas. Vale ressaltar, que como hospital filantrópico, o HDPA era obrigado a dedicar 60% da sua capacidade de atendimento a pacientes do SUS.  Mas, isso, também, não era privilégio de Feira de Santana. A crise estava ocorrendo em todas as Santas Casas do Brasil. O D. Pedro ainda não estava pagando suas contas em dia, tinha muitas dificuldades financeiras, o que só poderia ser resolvido com o reajuste da tabela do SUS e o aumento da prestação de serviços de alta complexidade para outros convênios. E isso também foi feito

 Investimentos

Foram feitos diversos investimentos. Um tomógrafo foi adquirido. Foi implantado um sistema de informatização e contratada uma consultoria com o objetivo de treinar os funcionários para operacionalizar o sistema. A Santa Casa adquiriu um sistema de gerenciamento, tanto da área médica, quanto da área contábil, administrativa.

A administração também passou por reformas na estrutura física, e foi reformada praticamente toda a clínica cirúrgica, que chegou a ser interditada por 15 dias para execução do serviço. O centro cirúrgico recebeu reformas. Graças à ajuda de diversos parceiros, a exemplo do IHEF, CEON, ION, Clínica Senhor do Bonfim, Clínica IUNE, e até os próprios médicos cirurgiões também ajudaram. Como o HDPA implantou, também, uma unidade cardiológica, o Incardio, era importante que tivesse um cintilógrafo miocárdico. Outro investimento foi transformar a unidade que anteriormente funcionou como maternidade, em uma nova unidade de urologia, nefrologia e transplante de rins, graças a uma parceria com médicos dessas especialidades, e a Santa Casa não investiu nenhum recurso.

 

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