quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Assombrações nas estradas

 

 
        Falei outro dia sobre a vida nas estradas, e hoje me lembrei de alguns fatos inusitados. Um médium espírita me contou que viajava de carona, à noite, pelas estradas do sertão baiano, e o motorista lhe contava que naquela região em que estavam trafegando os viajantes sempre relatavam o avistamento de duas onças pardas (suçuarana) frequentemente atravessando a estrada. Logo adiante, elas saltaram do mato e atravessaram a estrada na frente do carro. Com o susto, o motorista diminuiu a velocidade do carro e o médium lhe pediu que ele retornasse um pouco, alegando que teria notado algo anormal. Meio vacilante, o motorista retornou e ele pediu para parar bem no lugar onde as onças haviam atravessado.

         Ele desceu do carro, pediu ao motorista que permanecesse no carro e entrou no mato. Demorou e o motorista já estava agoniando, sem coragem para ir procurá-lo e sem saber se deveria ir buscar ajuda. Finalmente ele voltou e calmamente relatou o que acontecera. Segundo ele, quando as onças apareceram, ele viu dois espíritos com elas. Eram almas de vítimas de acidente fatal naquele local que estavam perdidas. Ele as encontrou e orientou para seguirem para onde deveriam ir. Daquele dia em diante ninguém mais relatou avistamento das duas onças. Julguem vocês mesmo se foi verdade ou mentira. Para mim, a estória é bem plausível, mas cada um é livre para pensar o que quiser.

         Nessas estórias de “assombrações”, tudo pode ser. Alguém impressionável viu coisas inexistentes. Fenômenos naturais, como fogo fátuo, assombram os caminhantes noturnos, ou apenas fatos simples que, no momento, devido às circunstãncias parecem ser inexplicáveis. Jorginho, um amigo meu, era viajante e trafegava com uma caminhonete movida a diesel, à noite, pelas estradas do Sul da Bahia. O carro começou a falhar e parou. Aconteceu algo comum em motores diesel. Deu “entrada de ar”. Motorista experiente, ele tentou extrair o ar, mas não conseguiu fazer o carro funcionar. Como já era mais de meia noite, naquele ermo de antigamente, ele resolveu dormir dentro do carro e esperar o amanhecer para pedir ajuda.

         Por volta de duas horas, ele acordou com um barulho. Abriu os olhos e ficou atento, mas não ouviu nada. A lua crescente iluminava um pouco a noite e, de repente, uma mão espalmou no para-brisa com força e desapareceu, deixando uma marca ensanguentada. Os cabelos se arrepiaram todo e ele começou a rezar. Logo em seguida ele viu uma luz veermelha piscando. Criou coragem, olhou e era o giroflex de uma viatura que se aproximava. Ele desceu do carro e começou a fazer acenos desesperados. Era a Polícia Rodoviária. Ele contou aos patrulheiros tudo que aconteceu até o momento em que ele acordou com o “tapa ensanguentado” no para-brisa. Os policiais, usando lanternas, logo descobriram alguém caído ao lado do carro. Estava morto. Parecia ter sido atropelado.

         Aí tudo mudou. Os policiais começaram a desconfiar dele. O coitado jurava por todos os Santos da Bahia de que estava falando a verdade, mas os caras queriam logo algemá-lo e levá-lo preso para a delegacia mais próxima. Foi quando um dos policiais, ainda vasculhando a área com uma lanterna, descobriu rastros de uma frenagem e o mato todo quebrado bem perto do carro dele. Chamou os outros e, com mais lanternas, descobriram que era uma ribanceira e lá embaixo um ônibus virado. Mais tarde se descobriu que o ônibus, descontrolado, veio pela pista contrária e caiu na ribanceira. Por um triz não acertou o carro de Jorginho. A “assombração” de Jorginho fora um pobre sobrevivente, que conseguiu subir a ribanceira e bater no para-brisa da caminhonete estacionada, como a pedir socorro. Mas, era tarde demais. Morreu bem ali. Mas Jorginho se safou duas vezes. Uma por não teer sido atingido pelo ônibus desgovernado. Outra porque os policiais descobriram que ele não teve nada a ver com a morte da “assombração”.

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