sábado, 30 de janeiro de 2021

Covid 19-uma ameaça de longa permenência

Recentemente, uma colega, pediu que olhasse um paciente com Covid 19, na UTI do HGCA. Foi entubado, iniciou dialise, e fez outras complicações. Os exames, quando olhamos, trazia números assustadores e achei que o prognóstico era ruim. Lhe passava informações, semanalmente. Saiu da UTI Covid-19 para a UTI normal e por muitas vezes foi tentando extubação, sem sucesso. Continuamos fazendo dialise e, aos poucos, foi recuperando a diurese. A partir daí evoluiu com melhora e há poucos dias, após dois meses, foi para casa. Uma vitória da equipe de saúde do HGCA, a quem devemos muita gratidão.
Nem sempre, é assim. Depois de tanto tempo, e tantos casos, todos já lidam com mais tranquilidade com os pacientes, com menos medo, e mais eficiência, mas se isso é verdade, também o é que estamos cansados dessa performance interminável, dessa exigência permanente de cuidado, atenção, roupas, máscaras, isolamentos, afastamentos familiares e risco de contaminação. No hospital lidamos com o lado dramático da Covid-19, o lado pesado, tenso, de rompimento familiar, boletins virtuais, e, em muitos locais, da desesperadora falta de oxigênio, o mais básico e mais essencial das necessidades desses pacientes.
Assistir a isso, é ver que o pior do humano, está logo ali, no poder. Nas almas enfermas de maldade e miséria que desviam dinheiro da compra de respiradores, hospitais de campanha, materiais de consumo; na incompetência técnica que submete seus estados e cidades a tragédia das suas administrações incapazes, omissas, doentias de indiferença e soberba; nos políticos que apenas enxergam oportunidades de poder na devastação econômica e sanitária que o vírus promove.
E quando pensamos que 2021 seria diferente, eis que o vírus reafirma que não é uma gripezinha, e repete seus ciclos de forma selvagem. Países na Europa já vivem a terceira onda, enquanto correm desesperados pela vacinação. Descobrimos que pessoas podem se reinfectar, até mesmo com duas cepas diferentes ao mesmo tempo; que o vírus tem feito cópias mais avançadas de si mesmo e que estas tem apresentado resistência parcial as vacinas (cepa africana e brasileira). Essas cópias resistentes têm potencial de se espalhar como um tsunami sanitário, pois, são até 40% mais contagiosas do que as anteriores. Além disso, outras cópias, além dessas, podem ser feitas pelo vírus e se tornarem ainda mais resistentes.
A grande e urgente necessidade de vacina é para que essa oficina que é o corpo humano, para o vírus, se torne mais resistente e ele não consiga atingir seus objetivos evolutivos. Daí a importância de todos se vacinarem.
Não nego que já pensei em ficar apenas no consultório, sem assistir o drama dos exames e dos números de perdas irem se desenrolando, todos os dias, nas unidades Covid, mas sei que não conseguiria. Há sempre aqueles, a quem ajudamos a voltar para casa.

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