segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Crônica de segunda

               Brochar

        De todos os temores que assombram o homem, a impotência sexual talvez seja um dos maiores. Desde que a sua sexualidade é despertada, ainda na adolescência, paralelamente é despertado o medo de “brochar” na hora H. Quem nunca teve terríveis pesadelos sobre isso? Já pensou? Você descola aquela gata que você vinha cantando a tempos, e justamente na hora da verdade o Bráulio não quer conversa com você.

         A mulher ali, linda, cheirosa, gostosa, esperando ansiosamente para ser executada, e o Bráulio ali, que nem gato de armazém, dormindo em cima do saco. Não é mole não, meu irmão. Aliás, digo melhor, é mole sim. Pois é! Mas, fatalmente, um dia vai acontecer com qualquer um. Alguns mais cedo, outros mais tarde, mas que vai acontecer vai.

         Hoje, o milagre da ciências, os vasodilatadores, que têm no Viagra o seu pioneiro e maior expoente, já nos livra de muitas decepções e frustrações. Mas, mesmo assim, vai chegar um dia que nem o Viagra vai resolver o problema. É duro! É duro! Aliás, é mole! É mole!

         Na altura dos meus quase 55 anos, eu já enfrentei o problema, resolvido, evidentemente, com a pílula azul. Mas, pra quem acha que brochar é o fim da picada (êpa!), não sabe que o pior ainda pode acontecer. Como? Eu explico.  

                Um amigo, quase 30 anos de casado, me relatou que há coisa pior do que brochar. Segundo ele, estava dormindo ao lado de sua santa e amada esposa, e lá pelas quatro horas da madrugada (eita hora boa pra fazer ousadia), bateu vontade. Futuca pra cá, futuca pra lá, a esposa acordou e ele começou a fazer as preliminares do jogo do amor.

         Tudo até que começou bem, mas de repente, brochou. E agora? Ele já tinha engolido uma pílula, já prelibando uma safadeza. E agora? A mulher ficou ali, esperando uma atitude da parte dele. E ele, coitado, olhando pro teto. E nada do Bráulio  acordar.

         E ele. Rapaz, e se o Viagra não resolver mais? Será que cirurgia resolve? Pode ser um vaso entupido, não pode? Sei lá? Melhor ir a um médico amanhã, urgente. E se não tiver jeito? Será que ela vai arranjar um amante? Ela ainda é nova, cinquenta e poucos anos, bonita, fogosa. Ai meu Deus!

         E por ai foi ele, imerso em sombrios pensamentos, a mulher esperando, olhando pro teto, o Bráulio dormindo e ele sofrendo. De repente a mulher disse: Benhê...

         Ai meu Deus, é agora! Sim amor...

         Olha só, a empregada não limpou o lustre...

         É duro. Aliás, é mole. Sei lá. Mas que é foda, é! Aliás, não é foda.

         Ah! Sei lá...

NE: Publicada no livro Sempre livre (2010)

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