quarta-feira, 18 de agosto de 2021

No que estamos nos tornando

        Li certa vez sobre um japonês que disse que iria retirar sua conta de determinado banco porque tudo lá estava automatizado e ele não interagia mais com pessoas, que era a única razão para ele ainda ir àquele banco. “Agora é tudo muito frio, impessoal, triste”, argumentava. Recentemente, uma amiga me passou algo que alguém havia publicado nas redes sociais. Dizia o seguinte: “Passei uma hora no banco com meu pai, pois ele teve que transferir um dinheiro. Eu não pude resistir e perguntei:

- Pai, por que não ativamos seu banco pela Internet?

- Por que eu faria isso?

- Bem, então você não terá que passar uma hora aqui para coisas como transferência. Você pode até fazer suas compras online. Tudo será tão fácil.

- Se eu fizer isso, não terei que sair de casa?

- Sim. Até os alimentos podem ser entregues na porta agora com a Amazon!

- Desde que entrei neste banco hoje, encontrei quatro dos meus amigos, conversei um pouco com o pessoal que agora me conhece muito bem. Você sabe que estou sozinho, esta é a companhia de que preciso. Gosto de me arrumar e ir ao banco. Tenho bastante tempo, é o toque físico que anseio. Dois anos atrás eu adoeci. O dono da loja de quem compro frutas veio me ver e sentou-se ao lado da minha cama e chorou. Quando sua mãe caiu alguns dias atrás durante sua caminhada matinal, o dono da mercearia local, onde compramos rotineiramente, a viu e imediatamente pegou seu carro para levá-la para casa, pois ele sabe onde eu moro. Eu teria aquele toque 'humano' se tudo ficasse online? Por que eu iria querer que tudo fosse entregue a mim e me forçar a interagir apenas com meu computador? Gosto de conhecer a pessoa com quem estou lidando e não apenas o 'vendedor'. Isso cria laços de relacionamentos. A Amazon oferece tudo isso também?

Tecnologia facilita a vida, mas não oferece vida. Pessoas precisam de pessoas e não de equipamentos tecnológicos. Você consegue se ver trocando reminiscências com o seu computador ou um robô qualquer? O mundo está morrendo por causa das facilidades que fizeram as pessoas solitárias e sedentárias. O homem é um animal social, vive em grupos sociais e não sozinhos. Existem os ermitãos, mas eles são a exceção e não a regra. Essa maldita pandemia, que teve muitos aliados entre os governantes aspirantes a ditadores, enxotou todo mundo para dentro de casa, excetuando-se apenas aqueles que não podiam deixar de trabalhar para não morrer de fome, e aqueles que não queriam morrer de tédio, depressão e suicídio.

Me deixa triste saber que existe uma legião de seres humanos vivendo solitários em suas casas, interagindo com seus semelhantes apenas pelo telefone ou computador, sem sentir o prazer de um abraço, ou simples aperto de mão. Existem os inconsequentes, que se expõem em aglomerações desnecessárias sem mínimos cuidados protetivos para evitar contrair o vírus chinês infernal. Esses são inconsequentes. Verdadeiros suicidas que não dão o menor valor à vida. Mas existem aqueles que, como eu, não perdem oportunidade de estar com seus semelhantes, desde que tomadas as medidas de proteção necessárias. Basta um pouco de sensatez, coragem e sabedoria para entender que só se morre no dia certo.

Como diziam os Vikings: “Faça o que fizer, não viverá um segundo a mais do que está marcado no livro de Odin (Deus)”.