segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Sem açucar, sem afeto

        Envelhecer é o destino de todos, mas cada um faz o roteiro a seu modo. É como escrever um texto com mais adjetivos, ou nenhum- como este- que lhe dê gosto ou enfeite, ou retirar o sal da feijoada. Ou o orgasmo que para ser o que é, não precisa de adjetivo. Se não lembra, atualize o drive.
    O aumento da expectativa de vida acontece em todas as populações, inclusive os habitantes das séries, na TV. Isto tem como base a prevenção às doenças – incluindo a inveja e o estouro do cartão –, a vacinação (sim, as vacinas!) os avanços da medicina, que vão dos órgãos para transplante, a bichectomia, passando pela reposição de testosterona e o Viagra que ajudam a manter a vida em alta.
        A divisão do humano em cabeça, tronco, e automóvel, limitando o movimento, causa envelhecimento dos vasos (aterosclerose) mediado pelo estresse que ocorre na célula - diferente do estresse que acontece quando a mulher pede a senha do celular- e acúmulo de produtos que lesam as camadas das veias e artérias. E tudo que acumula- inclusive a falta do orgasmo- vira tóxico .
        É certo que um dia chegaremos a viver 120 anos, o que irá gerar conflitos nas heranças – está aí Elizabeth, que não larga o trono–, no sexo, no amor e nos casamentos, afinal, não temos nenhuma denominação para as bodas após os 100 anos de sentença. Sabemos que, aos 90, é de álamo; aos 95, de sândalo; e, aos 100 anos, de jequitibá. Depois do jequitibá, nada existe. O futuro da humanidade está na dependência de um pau que a represente.
        Oito horas de sono, exercício, e a separação entre o que é importante e o que parece ser importante, ajudam a conter o cupim que rói os vasos. A aterosclerose pode ser reduzida se mudarmos o perfil do que comemos, o que nos fará perder peso, melhorar a ação da insulina, reduzir o colesterol que faz mal. E aumentar o colesterol que faz bem. Porque Deus colocou um colesterol de cada tipo, como se fossem Vasco e Flamengo, é que ninguém sabe.
        Para baixar o colesterol, é preciso reduzir os carboidratos. Isso inclui abolir o açúcar, ou seja, a cozinha de minha mãe, o chocolate, e as comédias da Jennifer Aniston. Durante a vida são os alimentos que fornecem energia ao corpo, mas confesso que é a sobremesa que dá orgasmos – lembra o drive- à alma. E algum sentido para vir, ver, vencer e não broxar diante da existência.
        Retirar adjetivos é como retirar o açúcar. É possível sobreviver, mas, sem esse afeto, fica sem sabor ir além do jequitibá, ou prolongar a crônica.

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