sábado, 14 de agosto de 2021

O show das baleias

 

*José Carlos Teixeira*

        Olha, eu fui para a cidade despreocupado. Quando cheguei na Sé, vi um povoado. Oi, minha gente. Fiz um perguntado. Responderam que a baleia é quem tinha chegado (Baleia da Sé, Riachão).
 
        Leio o primeiro parágrafo da reportagem que ocupa página inteira do jornal. Lá se diz que as baleias jubartes passam longos períodos no fundo do litoral soteropolitano. Ou seja, nas praias de Salvador. Porque litoral é a faixa de terra junto ao mar. 
 
        Fecho os olhos e fico a imaginar a cena: um grupo de baleias nas areias escaldantes da praia do Porto da Barra, tomando sol. Como elas ficam no fundo do litoral, devem estar refesteladas bem junto àquele muro de contenção, onde gostam de ficar as pessoas mais idosas para fugir da balbúrdia das crianças nas proximidades da linha de arrebentação – nada, portanto, de ficar na beiradinha, pois baleia que se preza é da turma do fundão... 
         
        Mas, conta o repórter, de vez em quando as jubartes vão à superfície do mar para pegar fôlego e surpreender os banhistas com saltos e jatos de água que chamam a atenção mesmo a quilômetros de distância. 
 
        Quer dizer, quando se cansam de tomar sol e beber cerveja em lata na areia, as baleias entram no mar. Ficam algum tempo na superfície, boiando, pegando fôlego e, de repente, se lançam nos ares, em olímpicos saltos que podem ser vistos lá das Sete Portas, do Tororó ou do Cabula, sei lá. 
 
        Mas, informa o repórter, com precisão, tais saltos não escapam dos olhares atentos de turistas, estudantes e pesquisadores – os demais, aparentemente não ligam, não veem ou fingem não ver as baleias imitando Rebeca Andrade... 
 
        Leio o segundo parágrafo. Lá se diz que todos (os de olhar atento, é claro) vão para o alto-mar de Salvador prestigiar o show desses animais marinhos que passam o período de junho a novembro em terras baianas. Mas, alto-mar de Salvador? Como assim? Alto-mar é longe, bem longe, até mesmo fora das águas territoriais. 
 
        Não seria melhor ficar na beira-mar esperando o momento em que as baleias saem da areia para dar uma refrescada na água e fazer aquele showzinho básico para as câmeras dos smartphones da galera? 
 
        Paro por aí. Falta-me alento para seguir a leitura. Largo o jornal e ligo a televisão. Está passando o programa de Ana Maria Braga. Deixo ligada. 
 
*José Carlos Teixeira é jornalista e observador de baleias 

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