*José Carlos Teixeira* |
Olha, eu fui para a cidade despreocupado.
Quando cheguei na Sé, vi um povoado.
Oi, minha gente. Fiz um perguntado.
Responderam que a baleia é quem tinha chegado
(Baleia da Sé, Riachão).
Leio o primeiro parágrafo da reportagem que ocupa página inteira
do jornal. Lá se diz que as baleias jubartes passam longos períodos no
fundo do litoral soteropolitano. Ou seja, nas praias de Salvador. Porque
litoral é a faixa de terra junto ao mar.
Fecho os olhos e fico a imaginar a cena: um grupo de baleias nas
areias escaldantes da praia do Porto da Barra, tomando sol. Como elas
ficam no fundo do litoral, devem estar refesteladas bem junto àquele
muro de contenção, onde gostam de ficar as pessoas mais idosas para
fugir da balbúrdia das crianças nas proximidades da linha de
arrebentação – nada, portanto, de ficar na beiradinha, pois baleia que
se preza é da turma do fundão...
Mas, conta o repórter, de vez em quando as jubartes vão à
superfície do mar para pegar fôlego e surpreender os banhistas com
saltos e jatos de água que chamam a atenção mesmo a quilômetros de
distância.
Quer dizer, quando se cansam de tomar sol e beber cerveja em
lata na areia, as baleias entram no mar. Ficam algum tempo na
superfície, boiando, pegando fôlego e, de repente, se lançam nos ares,
em olímpicos saltos que podem ser vistos lá das Sete Portas, do Tororó
ou do Cabula, sei lá.
Mas, informa o repórter, com precisão, tais saltos não escapam
dos olhares atentos de turistas, estudantes e pesquisadores – os
demais, aparentemente não ligam, não veem ou fingem não ver as
baleias imitando Rebeca Andrade...
Leio o segundo parágrafo. Lá se diz que todos (os de olhar atento,
é claro) vão para o alto-mar de Salvador prestigiar o show desses
animais marinhos que passam o período de junho a novembro em terras
baianas. Mas, alto-mar de Salvador? Como assim? Alto-mar é longe,
bem longe, até mesmo fora das águas territoriais.
Não seria melhor ficar na beira-mar esperando o momento em
que as baleias saem da areia para dar uma refrescada na água e fazer
aquele showzinho básico para as câmeras dos smartphones da
galera?
Paro por aí. Falta-me alento para seguir a leitura. Largo o jornal e
ligo a televisão. Está passando o programa de Ana Maria Braga. Deixo
ligada.
*José Carlos Teixeira é jornalista e observador de baleias
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