segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Crônica de segunda

Refeições em Família

                Ouço a notícia de que estudos comprovam que as refeições feitas em família reduziram em mais de 60% em todo o Brasil. Todo mundo prefere suas refeições em frente a um aparelho de TV, pois acham melhor assistir ao jornal ou a novela do que se sentar à mesa com seus familiares e ter aquela conversa saudável sobre o dia a dia de cada um.

         Eu sou do tempo em que as famílias faziam as refeições reunidas em volta de uma mesa e, confesso, não conservei o hábito. O corre-corre dos tempos modernos levou-nos a perder este salutar e agradável costume. Essa coisa de imitar os costumes de outros povos nos levou ao “Fast Food”. O negócio é comer rápido, engolir a refeição, nem sempre sadia, para ganhar tempo, pois “tempo é dinheiro”.

         Mas, na Europa, as empresas já estão deixando seus funcionários almoçarem em casa, pois entenderam os empresários que, almoçando com as famílias, eles voltam para o trabalho mais satisfeitos e produzem mais. Além disso, adoecem menos. A moda lá agora é “Slow Food”, comer lentamente.

         Eu me lembro da minha família reunida à mesa, no café da manhã, no almoço ou no jantar, eram sempre momentos especiais. Conversávamos, contávamos estórias, fazíamos planos e até lavávamos a “roupa suja”. Tudo num ambiente saudável, cordial e fraterno. Minha mãe, tinha uma sensibilidade tal que bastava alguém mudar a pisada, o modo de falar ou o olhar,  que ela já sabia se havia alguma coisa errada. Aquilo tudo era muito bom.

         E havia alguns momentos muito divertidos. Meu pai, comerciante antigo, vivia a contar estórias, através das quais ele nos passava algumas lições de vida. Lembro que certa vez, inconformado com meus dois irmãos que  teimavam em só abrir a loja às 9 horas, ele contou a seguinte estória:

         “Era uma vez um menino muito esperto e trabalhador, que acordava bem cedo para trabalhar. Todos os dias ele saia cedinho de casa e ia trabalhar no armazém do patrão. Certo dia, a caminho do trabalho, achou uma carteira cheia de dinheiro. Como era muito honesto, levou e entregou ao patrão, que lhe disse:

         - Vou deixar aqui no cofre. Se dentro de 30 dias o dono não aparecer, o dinheiro é seu.

         E assim foi que se passaram 30 dias e o dono da carteira não apareceu. O patrão então entregou o dinheiro ao menino. Com esse dinheiro o menino comprou algumas cabeças de gado, fez uma horta, e começou a ganhar dinheiro. Como era muito esperto e trabalhador , mais tarde se tornou sócio do patrão, e ficou rico. Tudo isso porque ele se levantava muito cedo para trabalhar”.

         Quando ele terminou de falar, um dos meus irmãos disse:

         - Meu pai, mais cedo do que esse menino acordou quem perdeu a carteira. Deixa continuar abrindo a minha loja às nove horas que é melhor.

         O velho virou o rosto e sorrio com o canto da boca, como quem pensava consigo mesmo: “É. Não tem jeito”!

 NE: Publicada no livro Sempre Livre (2010)

        

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