
Lembraremos sempre que vivemos a distância obrigatória, as máscaras que tentam fazer com que
não respiremos o mesmo ar do outro, e sofremos o isolamento e a dor da
morte sem despedida ou testemunho familiar, impostas por um vírus que
não escolhe sexo, condição social, cor, nem costuma perdoar nem mesmo os
que lhe enfrentam nos hospitais. Fomos contemporâneos da doença que
esvaziou as catedrais e as ruas, e que tornou cada um, ameaça e vítima,
em uma simbiose estranha e avassaladora, que abate e exige a esperança
da ciência para evitar o desespero.
Também, nós, que viemos do grande século XX - talvez o maior século de
todos os tempos-, e que desfrutamos da maior expectativa de vida e uma
capacidade de deslocamento assombrosa, mudaremos. Seremos navegadores
ao avesso, indo cada vez menos distante. E saberemos que os
sobreviventes estarão, só agora, inaugurando verdadeiramente, o século
XXI.
No feriado, penso em meus filhos que estão em outra cidade, estudando, sem que eu possa vê-los, apoiá-los um eventual receio, sem ter certeza do nosso reencontro, afinal, sou grupo de risco, sou médico. Não devia, mas fico tentando relembrar todos os momentos de nosso último encontro, tentando guardar como a última bolacha do pacote antes do desabastecimento. Apenas oro, e confio, que saberão cuidar um do outro.
Quando toda devastação passar- ela vai passar-, de alguma forma terei de dizer aos meus filhos que o mundo como viveram até aqui e para o qual se prepararam deu um salto triplo carpado e mudou de direção. E não saberei direito dizer ao certo como aquela vida de encontros e a agenda sem fim de eventos, agora, irá se converter em abraços mínimos, viagens seguras, interações menores e, em algum lugar do coração, um receio do amanhã.
Pela primeira vez foram chamados de sua história de vida como centro do mundo, para a história do mundo, como centro de sua história de vida e guardarão suas memórias, suas cenas, e conseqüências. Não me acho superior a eles. O medo deles é meu também, afinal, a vida acaba de dizer que nada é certeza.
Não seremos mais o que éramos, nem seremos o que ainda seriamos, que irá morrer, para que nos tornemos o outro que ainda não somos.
Cabe, com a segunda chance, fazermos melhor.
No feriado, penso em meus filhos que estão em outra cidade, estudando, sem que eu possa vê-los, apoiá-los um eventual receio, sem ter certeza do nosso reencontro, afinal, sou grupo de risco, sou médico. Não devia, mas fico tentando relembrar todos os momentos de nosso último encontro, tentando guardar como a última bolacha do pacote antes do desabastecimento. Apenas oro, e confio, que saberão cuidar um do outro.
Quando toda devastação passar- ela vai passar-, de alguma forma terei de dizer aos meus filhos que o mundo como viveram até aqui e para o qual se prepararam deu um salto triplo carpado e mudou de direção. E não saberei direito dizer ao certo como aquela vida de encontros e a agenda sem fim de eventos, agora, irá se converter em abraços mínimos, viagens seguras, interações menores e, em algum lugar do coração, um receio do amanhã.
Pela primeira vez foram chamados de sua história de vida como centro do mundo, para a história do mundo, como centro de sua história de vida e guardarão suas memórias, suas cenas, e conseqüências. Não me acho superior a eles. O medo deles é meu também, afinal, a vida acaba de dizer que nada é certeza.
Não seremos mais o que éramos, nem seremos o que ainda seriamos, que irá morrer, para que nos tornemos o outro que ainda não somos.
Cabe, com a segunda chance, fazermos melhor.
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