domingo, 9 de agosto de 2020

O bocão Lourival


Zé Garrincha era sujeito interessante. Alto, magro, andar cadenciado, aparecera no bairro, não se sabe de onde, tornando-se logo uma figura popular pela sua presteza. Era bom pintor e pedreiro, além de mexer com redes elétrica e hidráulica. Como todo bom brasileiro gostava de um bom “goró” e nos finais de semana, quando não estava dando duro, aparecia no bar de Zé Beiju, para gozar as delicias de uma caninha.

As conversas ali eram amenas, nada para os intelectuais de plantão. Futebol, politica, trabalho, família, alguma fofoca de vizinho. Zé Garrincha às vezes dava uma penada, e só. Seu negócio era rimar. Era só alguém deixar uma brecha e ele entrava com uma quadrinha oportuna.
O Egídio começa: “Zé olha que morena bonitinha!”, e ele de pronto: “Bonitinha diz você/ porque ela é sua vizinha/ mas se ela fosse minha/ eu chamaria rainha”. O Agnaldo, sempre provocador muda o tema: “Zé amanhã tem futebol, no Joia a bola vai rolar, o Touro vai defender a liderança, você vai Zé?”. Resposta pronta: ”De bola já ando cheio/ tenho até indigestão/ mesmo domingo eu trabalho/ vou defender meu pirão”.
E por ai seguia a brincadeira no bar de Zé Beiju, tudo no bom humor, temperado com uma boa pinga, até que Dunga achou de mexer com o paraibano Lourival, de pouquíssimas palavras apesar da boca grande. “E ai Zé, e o bocão de Lourival?” A quadrinha foi imediata: “Boca grande não é pecado/ pecado é fazer boquete/ pior é o cabra que faz/ acha bom e até repete”. Ai Lourival de um salto, puxou a “viana” (peixeira) e “gritou seu fela (filho) de uma p... vou lhe mostrar quem tem boca grande. Vou abrir uma bem grande na sua barriga...”
Baita confusão, por fim acalmada com reiterados pedidos de desculpas, de todos os lados, até de Zé Beiju, que não tinha nada a ver com a história. Agnaldo mandou uma rodada por sua conta e  questionou: “E agora, você ainda mexe com quem tem boca grande?” . ”Quem tem boca vai a Roma/ mas eu quase vi o fim/ quem tiver sua boca grande/ fique bem longe de mim!”, disse o poeta e foi saindo de mansinho...

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