Gostava da noite, não que ela fosse melhor
que o dia, é que sem o calor do sol, que às vezes incomodava, e o trabalho no
escritório, que incomodava muito mais, a vida era bela. No bar do Rudy uma
cerveja gelada, vez em quando um goró (cachaça), que é a verdadeira bebida do brasileiro, e aquela conversa
descontraída, sem pretensões, sem nada de intelectualidade. Era “matar” o
tempo, até voltar para casa, tomar um bom banho e dormir. Isso é se Gisa
(Adalgisa) deixasse!
A bela Adalgisa, que ainda continuava bela,
apesar dos anos passados, agora era “uma pedra no caminho” do pobre Vitalmiro,
(não é o grande advogado, só um homônimo). Uma vizinha, meio biruta, de tanto
insistir levara Gisa para a igreja e agora, na “lei de crente” como se diz, ela
não ligava para os naturais apelos físicos do
marido. Dedicava-se a ler a Bíblia, durante o dia, é à noite também!
Miro (Vitalmiro) não pensava em uma
aventura extraconjugal. Fiel, ele só queria atenção da mulher, e sofria na
mesma situação de um radialista, amigo seu, cuja senhora também se dedicava às
Escrituras Sagradas, esquecendo-se do mundano. Quando ele insinuava algo ela
rebatia: “Venha pecador, venha ler a Bíblia. Vamos para a Igreja!” Carente e já
não suportando o tratamento que recebia, resolveu ceder, esperando a merecida
recompensa.
No boteco de Rudy sua ausência causou
surpresa e mais surpresa seria, vendo-o
no templo, ao lado da radiante Gisa, tentando se ligar nas palavras do pastor.
Verdadeiro sacrifício que ele suportou até o fim com “dignidade” de um “irmão”.
Depois as despedidas. As palavras de elogio e incentivo e ele intimamente
“doidão” para estar em casa. Tomou um banho rápido, vestiu um short do Corinthians
e correu para a cama. Lá estava Gisa, concentrada com a Bíblia nas mãos. ”Venha
bem, você começou hoje, tem de se dedicar. É preciso conhecer tudo. Você acha
que indo à igreja uma vez, já é crente?”. Desesperado, sem perceber, Miro
vestiu uma camisa do Palmeiras, time que detestava e que era de um irmão, e
saiu às pressas, na esperança de que a bodega de Rudy, seu verdadeiro templo,
ainda estivesse aberta!
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