domingo, 5 de dezembro de 2021

A seresta de Zé Pequeno que não deu certo

 

Zé Pequeno (José Alves Ferreira), era realmente baixo, mas, o que lhe faltava em estatura sobrava em boa conversa e galanteio. Não podia ver uma garota bonita, geralmente mais alta que ele, para não “sapecar” uma cantada e arrumar uma namorada por poucos dias. Não se sabe o motivo, mas demorava pouco os romances do citado galã.

Assim encontrou uma bela morena estudante do IEGG, que morava em um pensionato feminino, com várias outras garotas. Bom de conversa garantiu que era cantor, dentre outra coisas, e prometeu uma seresta no sábado, com frango assado, refrigerante e até Martini (bebida que as garotas gostavam).

Tudo certo, comprou logo dois belos frangos assados, latas de quitutes e sardinha, pão, refrigerantes e Martini. Lourival, Jessé, Geraldo, Edinho e Flavio formaram a embaixada rumo ao pensionato. Flavio, bom no violão, ia à frente com Zé Pequeno ensaiando o repertório. Voz horrorosa, desafinado, Zé Pequeno torturava cantando canções de Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Anísio Silva, Silvinho, Orlando Dias e outros artistas da época.

Na retaguarda a rapaziada se deliciava com os frangos, quitute e Martini. Em frente ao pensionato, aos primeiros acordes do violão, janelas são abertas, emolduradas por belos rostos. “Vestida de azul e banco, trazendo um sorriso franco no rostinho encantador, minha  linda normalista...” Violão num tom, voz em outro, uma tragédia! Um “xiiiiii” geral lá nas janelas, desaprovação total e Zé Pequeno, esperto, passa a missão de cantar para Flavio, que tinha boa voz, e convida a garota e suas colegas para a parte melhor da seresta “os  comes e bebes”.

Ai a decepção foi absoluta. Dos dois generosos frangos só alguns ossos, um resto de quitute e uma garrafa de laranjada Fratelli Vita. Sobrara ainda uma sardinha, devido à dificuldade de abrir a lata e um dedo de Martini. As janelas voltaram a ser fechadas, não antes de uma democrática vaia feminina. No retorno, violão encapado, cético, Zé Pequeno se perguntava: “Não sei por que não deu certo!”

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