domingo, 3 de janeiro de 2021

O repórter e o disco voador

Naquele tempo, como se diz na Bíblia. E era naquele tempo mesmo. Imaginem a década de 60 do século passado. Isso para os jovens é como falar dos Apóstolos, de Jó, de Noé e outras figuras bíblicas.  A estrada Feira - São Gonçalo era de terra batida, cheia de pedregulhos o que dificultava a circulação das kombis que faziam o transporte coletivo,   geralmente com 15 ou 16 passageiros, o que se dizia: lotação normal!

Na manhã daquela terça-feira, pouco depois de 8 horas, ao sair de uma curva, em terreno ruim e velocidade reduzida, os passageiros, principalmente os que estavam no lado do motorista começaram a gritar e apontar para o céu: um objeto parecendo um prato gigante sobre outro, destacava-se em altitude aparentemente pequena. Era uma área de grande baixada onde havia uma casa de fazenda.

O motorista parou o veículo e os passageiros desceram, mas antes de uma observação mais apurada o aparelho desapareceu. Meia hora depois as redações dos jornais da cidade estavam em ebulição e logo após carros, repórteres e fotógrafos -  na época era assim -,  movimentavam o local que nunca havia reunido tanta gente.

Alguns mais afoitos desceram a ladeira e foram até a fazenda em busca de informações, outros caminharam pela área da estrada com o mesmo intuito. Fotos, depoimentos, na verdade pouca coisa de valor, mas cada um criou a sua história. E como sempre há um mais “esperto” que floreia e floreia. E esse floreou mesmo, descreveu o disco voador, com ETs dentro e coisa e tal, falou da constante presença desses objetos na região, sempre sobre aquela fazenda, onde as vacas holandesas pastavam tranquilas, e foi além, garantindo que o fazendeiro era visitado por alienígenas.

Sem dúvida uma manchete excelente para o jornal, ao contrário dos demais que apenas registraram o fato na sua verdadeira dimensão. Euforia seguida de tristeza, com o depoimento do fazendeiro, que ao ler o jornal foi diretamente à redação, para desfazer  a notícia que “deve ter sido escrita por um biruta”.  Ele nunca havia visto um ET, nem o repórter “biruta”, que esteve a pique de ser demitido e só não foi  graças à  bondade do diretor  do jornal. Mesmo assim, depois de uma “conversa reservada” ele ouviu do chefe: “pegue aqui esta carta, tome um disco voador e vá passar uns tempos na sucursal de...” E assim foi feito!

 

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