quinta-feira, 3 de junho de 2021

Brincando com o desconhecido

         

    Tenho visto ultimamente na internet muitos vídeos sobre fenômenos inexplicáveis, notadamente no campo espiritual. A maioria, é verdade, sobre manifestações que aparecem em filmes e fotos sem que a pessoa que estava manipulando o equipamento percebesse na hora, e só observasse o fenômeno quando foi assistir o que gravou. Até aí menos mal. Não foi intencional nem ninguém estava invocando espíritos ou praticando qualquer ritual de bruxaria. Não. São apenas pessoas comuns registrando momentos fortuitos de suas vidas e que acabaram capturando imagens assombrosas, assustadoras, inexplicáveis. A coisa fica séria quando se tenta brincar com o que não se conhece. Eu via espíritos na minha infância, mas não interagia com eles nem eles comigo. Eu tinha medo, é claro, mas tinha muito mais medo de que me julgassem louco ou mentiroso. Não seria eu a gritar “olha o lobo”, se realmente não houvesse um. Depois eles sumiram e eu passei apenas a sentir a presença deles através de arrepios bem característicos.

         Nunca brinquei com essas coisas, pois sabia instintivamente que poderiam ser perigosas. E fiquei mais convicto disso depois de um episódio que me ensinou a não brincar com coisas que eu não tivesse certeza que poderia controlar. Eu estava tomando um curso de hipnose e o professor nos ensinou alguns macetes, advertindo-nos, porém, que não tentássemos fazer nada daquilo sem a presença de alguém experiente. Eu estava entusiasmado com o que via, e cheguei certo dia à casa da minha namorada contando pra ela algumas coisas. E ela, é claro, duvidava. Foi quando chegou uma vizinha, Carmem, uma pessoa simplória, e minha namorada falou pra ela o que eu dissera e ela, é claro, duvidou. Ferido em meus brios de adolescente, eu disse: Pois eu vou lhe hipnotizar. Pedi a ela que juntasse as mãos atrás da cabeça e entrelaçasse os dedos. Ela ficou em posição e eu comecei o trabalho de sugestão e hipnose. Depois eu disse: Tente soltar as mãos. Ela não conseguiu e começou a se desesperar. Eu tentava e ela se desesperava ainda mais. Comecei a tentar acalmá-la e suava frio. Graças a Deus, consegui. Mas encerrou-se ali a carreira de um grande hipnotizador.

         Frequentando os centros espíritas, os médiuns viram em mim uma potencialidade, e tentaram de tudo para desenvolve-la. Mas, na verdade, intimamente eu não queria, tinha medo de não ser bom o suficiente e acabar em vez de ajudar, prejudicando alguém. Passei a usar a minha sensibilidade mediúnica pra identificar problemas e pedir aos médiuns que socorressem aquelas pessoas obsidiadas por espíritos inferiores. Graças a Deus, consegui ajudar muita gente desse modo. Mas, muitas vezes, bastavam alguns aconselhamentos e práticas simples. Mas via também as “paradas duras” que os médiuns de verdade enfrentavam, às vezes em prejuízo de si mesmos.

         Eu entendo aqueles que não acreditam no mundo espiritual. Ainda não estão prontos. Entendo aqueles que ainda têm dúvidas, aqueles que acreditam, mas perguntam por que não vêm os espíritos. Tudo tem o seu tempo e lugar. O fruto não pode ser colhido antes nem depois de estar maduro, mas no tempo certo. E esse, é o tempo de Deus. Mas deixo um conselho de valor: Não zombem nem se metam a lidar com coisas com as quais não têm pleno conhecimento. Lembram-se do filme “O Exorcista”? É uma estória fictícia. Mas tudo começa com adolescentes brincando com a Tábua Quijá, para invocar espíritos. E adolescente em geral tem a mediunidade muito desenvolvida, que pode se fortalecer ou enfraquecer com o tempo. Mas, na infância e puberdade as crianças não sabem nem podem controlar suas próprias forças. Por isso é tão perigoso brincar com o desconhecido. Tudo aquilo que desconhecemos deve ser respeitado e estudado para compreendermos como funciona e se somos capazes de lidar com ele.

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