domingo, 7 de agosto de 2022

 


*Somos o que somos* 

Reação quase instantânea, tendemos a imaginar pessoas com quem nos identificamos e mantemos regular contato, serem portadoras de saber racional, isentas de perturbações da subjetividade pessoal como também das influências sociais. 

Assim, por mantermos laços de amizade, ficamos surpresos quando manifestam opiniões opostas à direção do caudal dos rios, contrárias ao sentido do despencar das neves ou na contramão de normas estatuídas em prezados livros. 

Acontece, todavia, para felicidade geral e graças à subjetividade, com opiniões não haver objetividade absoluta. Alhures já questionaram: pobre do amarelo se todos gostassem do azul. 

Na subjetividade é onde, sem percebermos, reside infinidade de juízos de valor, estritamente pessoais, em enorme escala e mesclados, influenciadores da nossa leitura do mundo. Amores vividos, viagens feitas, (des) gosto por música clássica ou tudo o mais imaginável, livros lidos, pratos prediletos, caminhos da infância, ambiente familiar, filhos tidos ou não, atividade profissional, estudos havidos, um verdadeiro acervo cultural de estímulos a definir nossa percepção do universo. 

Por isso, a imagem do mundo não pode ser confundida com a de um instantâneo fotográfico. De uma ou outra forma, nossa leitura do detalhe congelado é sempre fruto da interpretação que dele fazemos. Interpretação marcada pela cultura na qual nos inserimos, não nascida na cabeça do homem ideal e sim, na do homem real e concreto. 

Do homem cujo patrimônio genético começa a ser manipulado; cujas bases biológicas são condicionadas por tratamentos químicos; cujas imagens e decisões estão entregues aos sortilégios das técnicas publicitárias e aos estratagemas dos condicionamentos da massa; do homem, cujas escolhas coletivas e o querer comum cada vez mais se transferem para as decisões de tecnocratas onipotentes. 

Resultado: viver é desafio a nós proposto, sempre na busca da sonhada ética. 

Se, na linha do equador, partirmos pela direita ou pela esquerda, veremos sucessão de diferentes paisagens, enfrentaremos distintos embates. O tempo da viagem poderá ser distinto, mas é certo, chegaremos ao mesmo precipício. 

Somos o que somos e não convém nos precipitarmos, passado o tempo de nossos volteios o mundo continuará girando.



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