O Clube dos Sete
Essa turma costumava passar o carnaval em Ilhéus. Já conheciam muita gente por lá, o dono do hotel já era amigo deles e, Ilhéus, apesar da fama de pouco hospitaleira com “gente de fora”, recebia bem os jovens feirenses.
Um dia, num baile de carnaval, Pintão perguntou a Zé do Ó:
“O que é que esse playboys de Ilhéus estão querendo, que toda hora me pedem
“uma coisa”? Zé do Ó, que era o gênio inventivo e investigativo do grupo, investigou
e descobriu. Os jovens ilheenses achavam que os feirenses tinham “bolinha”, um
comprimido estimulante cujos usuários seriam, nos dias de hoje, comparados a
drogados. E não era o caso daquela turma.
Ferido em seus brios, Zé do Ó resolveu “aprontar”. Saiu do
clube e, pouco depois, voltou com os bolsos cheios de comprimidos, que
distribuiu com a turma dizendo: “Pode distribuir a vontade”. O sujeito tomava a
suposta “bolinha” e saia “ligadão”.
No dia seguinte, o dono do hotel acordou todo mundo cedinho
e, preocupado, disse: “Vocês aprontaram alguma coisa, e só não apanharam ainda
porque os palyboys de Ilhéus ainda não conseguiram reunir um grupo pra
enfrentar vocês. Chegam a juntar dois ou três, mas quando outros estão
chegando, os primeiros voltam pra casa. Te todo mundo de diarréia.” É que Zé do
Ó tinha comprado todo o estoque de purgativos de uma farmácia, e distribuído
dizendo que era “bolinha”.
Mas pior que isso ele aprontou no Feira Tênis Clube, na
época em que era presidente do “Aristocrático”, Péricles Valadares. O Clube dos
Sete trouxe para a Micareta de Feira de Santana, algumas estudantes de
Salvador. O presidente do clube cismou de que eram prostitutas e não queria
permitir a presença delas no “Aristocrático”. Depois de muita argumentação,
permitiu que ficassem, mas sob a condição de permanecerem sentadas à mesa, sem
dançar.
Mais uma vez, prevaleceu o gênio criativo de Zé do Ó. No dia
seguinte, o escândalo estava nas ruas. Pais de família revoltados e a seriedade
e decência do clube em xeque. Zé do Ó então tripudiou: “E então, presidente. É
esse o clube em que nossas amigas, estudantes e filhas de boas famílias
soteropolitanas, não podem entrar”? O presidente pediu pelo amor de Deus que
ele não falasse mais no assunto, e que as meninas podiam entrar e dançar no
clube a hora que quisessem. Ele tinha coisas mais sérias com o que se
preocupar. Por exemplo: Descobrir o que aconteceu, que o clube, decente e
aristocrático, havia amanhecido cheio de “camisinhas” usadas. Tinha camisinha
no jardim, no salão de dança, nos banheiros e até na sala da diretoria.
NE: Publicada no livro A Levada da Égua e outras estórias (2003)
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