segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Crônica de segunda

 A vez dos cornos

 

O novo Código Civil Brasileiro prevê o pagamento de indenização à parte do casal que se sentir traída. Isto é: o homem ou mulher que provar que houve infidelidade conjugal por parte da sua outra banda da maçã, pode requerer na justiça um ressarcimento em dinheiro. O jornalista Edson Borges, ao saber da notícia, levantou uma questão importante.

É que nas classes média e baixa, onde a Confraria de São Cornélio tem um maior número de adeptos, a turma anda tão sem dinheiro que já incluiu no cardápio “canja de pardal”, como complemento alimentar. Então, como poderão pagar indenização?

É o próprio Borges quem sugere uma solução: Os nobres deputados poderiam instituir uma espécie de “Bolsa Chifre”, pra ajudar os cornos a pagarem suas dívidas.  Aí eu fiquei imaginando algumas situações. Por exemplo: O cara no escritório pergunta pro outro se ele já conseguiu trocar de moto. “Ainda não, rapaz. Tô esperando o meu “vale chifre” que este mês ainda não saiu...” .

E como criatividade é o que não falta ao brasileiro, principalmente na hora de fazer armação pra tomar dinheiro do governo, eu imaginei o diálogo entre um casal de espertinhos armando um golpe.

-         Escuta minha filha. Já conversei com compadre Chico e ele concordou em armar um “flagra” de adultério pra gente poder requerer uma “Bolsa Chifre” do governo.

-         Tudo bem, mas quem vai ser o corno? Eu, você, ele ou comadre Maria?

-         Já tá tudo acertado. Eu vou ser o corno. Eu vou fingir que viajo, ele vem aqui transar com você. Eu volto de surpresa e... tchan! É batata! Flagrante de adultério.

-         Tudo bem. Agora era bom trazer comadre Maria pra ser testemunha do flagra, porque assim ela também pode requerer a Bolsa Chifre.

-         Boa idéia. Vou já, já, telefonar pro compadre Chico pra acertar os detalhes.

É sempre assim. O governo cria um benefício e logo alguém encontra um meio de fraudá-lo. Pelo sim ou pelo não, eu vou fazer uma consulta ao setor jurídico aqui do jornal, pra saber quantas vezes a gente pode requerer o benefício. Vai que a coisa aperta mais ainda (se é que isso é possível) e a gente sempre pode descolar uma graninha extra.

NE: Publicada no livro A Levada da Égua e outras estórias (2004)

Nenhum comentário: