A vez dos cornos
É que nas classes média e baixa, onde a Confraria de São Cornélio tem um maior número de adeptos, a turma anda tão sem dinheiro que já incluiu no cardápio “canja de pardal”, como complemento alimentar. Então, como poderão pagar indenização?
É o próprio Borges quem
sugere uma solução: Os nobres deputados poderiam instituir uma espécie de
“Bolsa Chifre”, pra ajudar os cornos a pagarem suas dívidas. Aí eu fiquei imaginando algumas situações.
Por exemplo: O cara no escritório pergunta pro outro se ele já conseguiu trocar
de moto. “Ainda não, rapaz. Tô esperando o meu “vale chifre” que este mês ainda
não saiu...” .
E como criatividade é o que
não falta ao brasileiro, principalmente na hora de fazer armação pra tomar
dinheiro do governo, eu imaginei o diálogo entre um casal de espertinhos
armando um golpe.
-
Escuta minha
filha. Já conversei com compadre Chico e ele concordou em armar um “flagra” de
adultério pra gente poder requerer uma “Bolsa Chifre” do governo.
-
Tudo bem, mas
quem vai ser o corno? Eu, você, ele ou comadre Maria?
-
Já tá tudo
acertado. Eu vou ser o corno. Eu vou fingir que viajo, ele vem aqui transar com
você. Eu volto de surpresa e... tchan! É batata! Flagrante de adultério.
-
Tudo bem. Agora
era bom trazer comadre Maria pra ser testemunha do flagra, porque assim ela
também pode requerer a Bolsa Chifre.
-
Boa idéia. Vou
já, já, telefonar pro compadre Chico pra acertar os detalhes.
É sempre assim. O governo
cria um benefício e logo alguém encontra um meio de fraudá-lo. Pelo sim ou pelo
não, eu vou fazer uma consulta ao setor jurídico aqui do jornal, pra saber
quantas vezes a gente pode requerer o benefício. Vai que a coisa aperta mais
ainda (se é que isso é possível) e a gente sempre pode descolar uma graninha
extra.
NE: Publicada no livro A Levada da Égua e outras estórias (2004)
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