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Jardim Forró da Cidade Jardim *
Paredes cor creme, gosto de
quero-mais,
barras, em verdes-patrimoniais:
Estação Rodoviária da Cidade
Jardim.
Daqui, cara a cara, encaro
o portentoso palco-abrigo
das atrações junino-musicais.
Ao frontispício do proscênio,
no alto, letras garrafais:
“Jardim Forró”.
Dístico ladeado por painéis
multicoloridos:
igrejinhas, prédios públicos, idosas
casas.
Tempos antigos.
Um relicário.
Beiradeiam o amplo-palco,
torres-jardins formosas
de um “verde profundo de folhas de
louro.”
Charmosas.
À esquerda,
voltada para a arena da “turma do
gargarejo”,
réplica do carioca sambódromo,
nosso afro-baiano ‘forródromo’.
Camarotes onde por certo,
autoridades
e público pagante – mais certo
ainda –
abrigam-se dos serenos joaninos.
Junho, mês dos Antônios, dos Joões,
dos Pedros,
das trezenas litúrgicas,
das dezenas-apostas no jogo-zoológico,
das frutas, das rezas, dos licores,
das canjicas e das tradições.
(An) danças, comilanças e
festanças.
Cidade portas abertas.
Em instantes,
mar de automóveis navegantes;
oceano de incontáveis visitantes.
Centenários oitizeiros - mais de
cem -
algarobas mais recentes,
belos balões-luz, pingentes,
arranjos florais de cabo a rabo
bandeirolas resplandecentes.
Tudo escandalosamente lindo.
Uma aquarela.
Gentes agasalhadas
frente ao noturno frio-tropical,
transformam o vestuário da
população
acostumada às saias curtas, às
bermudas,
às camisetas-regata, às sandálias havaianas.
Novas aparências.
Mudamos de cidade,
sem dela sairmos.
Olho à direita.
Alinhada sucessão de barracas-bar,
delícias da época:
amendoim, milho cozido, canjica,
licores vários sabores.
Moquecas, feijoada, maniçoba.
Ponto obrigatório dos amantes
de pratos plenos ao raiar da
madrugada.
Rodopio 180 graus, miro a
retaguarda.
Enorme bateria de toilettes,
arrodeados por alva divisória,
poupa às vistas festivas, os públicos
sanitários.
Algo raro: ofertam pias e espelho
aos usuários.
A arena, frente ao palco das
atrações, lota-se.
O vozerio reinante, brados de
alegria,
típicos de população
acostumada a exagerados decibéis.
A alegria contagiante,
em clima de notável segurança,
deleta da memória a pandemia recente.
Afoga a triste lembrança
de dois enlutados anos.
Comemorações, todos a elogiar
a vontade política de inovar.
Primeiro mandato:
o jovem alcaide
avizinhou-se da unanimidade.
O múltiplo e diversificado espaço,
ponto urbano umbilical laico,
entre outros tantos,
divide com o sacro paço da Igreja
Matriz,
as honras de representar
São Gonçalo dos Campos.
Abandono a mesa e o licor de
jenipapo,
despeço-me das ‘louras geladas’.
Alojo-me à antiga estação
ferroviária.
Há cem anos,
ponto de parada das marias-fumaça,
frontal à praça e ao casarão-morada
do “coronel” que trouxera da
Europa,
o projeto de urbanização daquela
área:
praça-início de avenida,
centuplicados oitizeiros.
Naturalmente bela.
Mais bela agora,
o mestre-sala, decorador municipal,
devolveu-lhe ares de arraial.
Barraca de artesanatos,
cordéis, cantadores nordestinos.
Fogos de artifício, poucos.
Escassas fogueiras.
Avanço ecológico.
Acima de nossas cabeças,
incontáveis lâmpadas,
em cordões-de-luz trançados.
Noites sinônimos de dias iluminados.
Fosse isso só, pouco seria.
As enfileiradas árvores,
aos pares, via afora,
a exemplo das descritas antes,
derramam-se em belezas esfuziantes.
E os painéis, com sua impactante
cromaticidade?
– Lembram-se deles, lá no
frontispício do palco? –
Agora, tais reproduções de
coloniais construções,
formam um corredor polonês,
ao longo da arborizada avenida,
umas às outras coladas,
montadas no beiral das calçadas.
Entre outros testemunhos
no decorativo visual arquitetônico,
a histórica Fonte da Bica,
água que dessedentou os
desbravadores,
não foi esquecida.
Também estava, a cores,
naquele corredor de saudades.
Imagens-alvo de celulares,
milhares.
Transitar nas pedras da avenida-sonho,
tropeço.
Presente e passado mesclados,
nossa memória
reviram ao avesso.
Retrocedemos à infância.
Testemunhei e vivi o junino
festival.
O vetusto casarão, minha morada,
lindeiro à garbosa entrada,
disse-me nunca haver visto algo igual.
Ainda ressoam alhures e em mim,
a voz do forrozeiro-amigo Hugo Luna,
em seu canto-homenagem à Cidade
Jardim.
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