
Eu poderia até dizer que fiquei saudoso
e comovido, prestes (epa!) a calçar minhas alpercatas de couro, vestir uma
camiseta com os dizeres “Yankees go home”, colocar uma boina e sair por aí
cantarolando “Pra não dizer que não falei das flores (ou seriam árvores?). Mas
não. O único sentimento que me valeu foi o de pena. Fico mesmo com dó de saber que
meus amigos, velhos companheiros de luta, não aprenderam nada com o passado e,
o que é pior, não querem aceitar que envelheceram, apegando-se desesperadamente
a qualquer coisa que lhes dê a ilusão de juventude.
Sabem, companheiros? Eu amadureci.
Estou com a idade avançada, mas não velho. Não guardo ilusões de juventude e
vivo o meu tempo usando a sabedoria que o passado de lutas me deu. E uma das
coisas que aprendi foi reconhecer os meus erros e não me permitir ser enganado
novamente, incorrendo nos mesmos erros que hoje me assombram e me assustam.
Desde o fim da ditadura militar ensarilhei as armas, guardei as bandeiras e me
despi de colorações partidárias para votar democraticamente nas pessoas em que
confiava.
Muitos não entenderam e passaram a me chamar
de traidor e vira casaca. Porém, firme nas minhas convicções, segui meu próprio
caminho, sem ter ninguém para me dizer “faça isso”, “vote naquele”, “lute por
nós”. Não. A partir dali a luta passou a ser minha, só minha. Não mais uma luta
por uma causa, mas por várias causas, minhas e de pessoas que eu quis defender
sem pedir nada em troca. Não sou de direita, nem de esquerda, como querem
antigos companheiros, nem de extrema direita, como apregoam na corte petralha.
Apenas sigo o caminho reto da minha consciência, sem dar satisfações a quem
quer que seja, a menos que eu julgue necessário.
Minha voz não canta mais as cantigas de
protesto e nem brada palavras de ordem. Minhas palavras hoje são de paz e
harmonia, e minhas canções falam de amor e liberdade. Por isso não vou
compactuar com uma gente que quer nos escravizar, negando o nosso direito de
ser quem e o que somos e não o que eles querem que sejamos. Não posso aceitar
que me repudiem porque não penso como a maioria. Eu sou eu. Único, indivisível
e inimitável. Quando gosto de alguém, aceito os seus defeitos e as suas
qualidades, e não apenas uma parte. Se querem minha amizade, me aceitem como eu
sou e não como gostariam que eu fosse. Afinal, ninguém é obrigado a gostar de
ninguém. Esse é um direito natural de quem é verdadeiramente LIVRE.
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