Sempre fui fã dele. Desde os idos anos
70, quando ele assinava uma coluna no extinto Jornal da Bahia como J. U.
Ribeiro. Estou falando, é claro, do jornalista e escritor baiano, João Ubaldo Ribeiro.
Igualmente sou fã de um amigo de infância dele, que se tornou personagem
frequente nas suas crônicas e artigos, o Luiz Cuiuba. Sujeito simples, nativo
da ilha de Itaparica, colega de Ribeiro desde os tempos do primário, e que ele
prezava muito.
Umas das estórias mais deliciosas que
Ribeiro contava sobre Cuiuba, foi quando ele o apresentou a um sociólogo,
político, filósofo, e sei lá mais o que, como sendo um homem de grande
conhecimento. A conversa entre os dois não rendeu muito, pois quando o sujeito
começou a botar erudição pra cima de Cuiuba, acerca das aflições e dramas do
cotidiano humano, Cuiuba só respondia: E daí? Após uns quatro ou cinco “e daí”,
o sujeito não aguentou mais e sentenciou: “Poxa, Cuiuba. Assim não dá pra
argumentar com você”! Ao que Cuiuba retrucou: “E daí”? Quer dizer. Luiz Cuiuba
arrasou como o cara apenas com alguns “e daí”.
Quando vi esta semana as imagens de um
médico que surtou com um bombeiro que lhe deu voz de prisão porque se recusava
a atender a um paciente, diga-se de passagem, porque nem o hospital, nem os
funcionários e nem ele, o médico, tinham mais absoluta condição de atender a
quem quer que fosse, eu me lembrei de Luiz Cuiuba. “Meu caro Dr. – eu teria
dito ao médico – Pergunte ao bombeiro: E Daí? Sim. E daí? Me leve preso, mas
antes, atende você mesmo ao seu paciente, se for capaz. Ora zorra! Vê lá se eu
vou passar os melhores anos da minha vida alisando banco de universidade para
me forma em médico, para receber voz de prisão de um bombeiro que não tem a
menor noção do que está fazendo. Comigo não, violão!
Certo dia o diretor de um hospital
recebeu uma ordem judicial para internar um paciente. Ele explicou aos
familiares do dito cujo, de que não havia vaga. Sabendo disso, o promotor que
emitiu a ordem, foi pessoalmente ao hospital, acompanhada de dois policiais,
para prender o diretor que desobedecera a uma ordem judicial. Em lá chegando, o
diretor se defendeu: “Não desobedeci, meritíssimo, apenas queria que o senhor
viesse aqui para me dizer quem eu devo tirar do hospital e deixar morrer, para
poder internar o seu paciente. É só o senhor mandar que eu obedeço na hora”. Dá
pra imaginar a cara de tacho do promotor?
Pois é. Estamos vivenciando no Brasil
mais uma situação surrealista, entre tantas outras já existentes. Sim. Porque
como alguém já disse, aqui galinha cisca pra frente, puta goza e cafetão é
ciumento. Imaginemos a situação do médico lá de Brasília (êpa!). Apenas ele e
um colega num plantão onde deveriam estar quatro médicos. Poucos assistentes,
faltando medicamentos e insumos para simples curativos, muito menos cirurgias.
Cansado, estressado, tirando leite de pedra. Aparece um bombeiro para lhe dizer
que se ele não internasse um paciente que ele, o bombeiro, levara para o
hospital, seria preso. Dá ou não dá uma vontade danada de dizer: E daí?
Observe-se que houve uma mudança na
questão de internamentos em hospitais. Antigamente, combateu-se muito políticos
que nomeavam diretores de hospitais e clínicas públicas, e internava seus
pacientes (eleitores) enviando bilhetinhos, furando a fila em detrimento dos
pacientes mais graves que não tinham votado neles. Isso agora mudou. Os
políticos já não mandam bilhetinhos, não querem se expor. Mas, mandam seus
funcionários nomeados para o judiciário fazer o trabalho sujo por eles. Isso
significa dizer que morre quem não tem juiz, promotor ou advogado que lhe
conceda um mandado judicial para ser internado.
Essa situação poderia mudar se a
Associação Brasileira de Medicina, se movesse para fazer algo mais pelos
médicos do que cobrar mensalidades e distribuir honrarias a torto e a direito,
como soe acontecer nas nossas antigas e hoje em dia nada nobres, instituições
representativas.
Já me estressei muito com estas
situações. Denunciei, me expus, gritei. Ninguém me ouviu?
E daí?
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